
Por professor e jornalista Sadraque Rodrigues – Portal Colombense
A Seleção Brasileira sempre foi mais do que um time. Ela representa, para milhões de brasileiros, uma extensão viva da pátria, um espelho de nossa alma coletiva, uma vitrine para o mundo. Quando se fala em futebol no Brasil, fala-se de paixão, de história, de cultura. E, agora, fala-se também de mudanças. Mudanças que, à primeira vista, podem parecer ousadas, mas que carregam em si uma lição importante sobre liberdade, mérito e soberania. A chegada de Carlo Ancelotti ao comando técnico da Seleção Brasileira é, sem dúvida, um marco. Mais do que uma contratação, é um movimento simbólico: uma demonstração de que o Brasil está disposto a abrir as portas para a competência, independentemente da origem.
Ancelotti, italiano, com passagens vitoriosas por gigantes da Europa, não chega apenas com um currículo invejável. Ele representa uma forma de pensar o futebol que combina disciplina, inteligência tática e respeito à individualidade dos jogadores. Não há paternalismo, não há improviso. Há planejamento, há estrutura, há método. E é justamente esse método que pode representar um novo momento para o nosso futebol. Afinal, em tempos nos quais o improviso e a paixão desmedida muitas vezes obscurecem a razão, trazer alguém que simboliza a serenidade e o equilíbrio pode ser exatamente o que o Brasil precisa.
No entanto, a escolha de um treinador estrangeiro para a Seleção não está imune a críticas. Há os que apontam para uma suposta perda de identidade. Outros veem na decisão uma submissão a um modelo europeu. Mas essa interpretação ignora um princípio fundamental das sociedades democráticas e livres: a liberdade de escolha, baseada no mérito. Em uma nação verdadeiramente democrática, o critério que deve orientar qualquer nomeação, em qualquer esfera, é a competência. O Brasil, ao contratar Ancelotti, não abdica de sua identidade. Pelo contrário, reafirma que é uma nação suficientemente madura para valorizar o que há de melhor no mundo, sem perder de vista suas raízes.
O debate sobre identidade nacional, nesse caso, deve ser feito com serenidade. Identidade não é isolamento. Não se fortalece uma cultura se fechando ao novo, mas sim dialogando com outras experiências, absorvendo o que há de melhor, adaptando ao próprio contexto. A soberania de um povo não está em rejeitar o estrangeiro, mas em escolher livremente, com consciência e responsabilidade, o que deseja para si. Essa liberdade de decisão é um pilar central da democracia. E não há nada mais democrático do que buscar excelência, onde quer que ela esteja.
Ao assumir o comando da Seleção, Ancelotti herda uma missão delicada: devolver ao futebol brasileiro a competitividade e a eficiência que marcaram nossas grandes conquistas. Ele não carrega consigo promessas populistas, nem discursos inflados. Ele carrega experiência, currículo, respeito global e, principalmente, um olhar de fora — muitas vezes mais objetivo — sobre as potencialidades e as deficiências do futebol brasileiro. Esse olhar externo, longe de ser uma ameaça, pode ser o impulso necessário para o aperfeiçoamento de nossa estrutura esportiva. Não se trata de copiar modelos, mas de aprender com eles.
A formação da pré-lista de convocados para os próximos compromissos da Seleção já reflete um novo estilo. O critério passa a ser o desempenho, não o nome. O momento atual dos jogadores será priorizado, não o passado. É um modelo que valoriza o esforço contínuo, a superação pessoal, a responsabilidade com o coletivo. Esses são valores que transcendem o esporte. São princípios que uma sociedade livre e democrática deve cultivar diariamente. O futebol, assim como a vida pública, precisa recompensar o mérito. Precisa afastar-se dos apadrinhamentos, das escolhas arbitrárias, das imposições ideológicas. Precisa, antes de tudo, ser justo.
Essa justiça passa, necessariamente, pela liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de escolha, liberdade de pensamento. Um ambiente no qual o técnico pode montar sua equipe sem interferências políticas, onde a imprensa pode analisar com liberdade, onde os torcedores podem criticar ou apoiar sem medo de represálias. O futebol, por sua força cultural, é um campo privilegiado para se exercitar a democracia. Quando há censura, perseguição, intolerância à crítica, seja no campo ou fora dele, não se perde apenas o jogo. Perde-se a essência da liberdade. O Brasil, ao optar por Ancelotti, sinaliza que está disposto a proteger essa essência. Que está disposto a se guiar pela razão e não pelo medo.
É preciso reconhecer, também, que o futebol é uma parte da imagem que o país projeta para o mundo. E essa imagem deve ser de um Brasil que valoriza o talento, que respeita as diferenças, que constrói pontes em vez de muros. Um Brasil moderno, que olha para frente, que aposta na competência, que respeita sua história, mas que não tem medo de inovar. A escolha de um treinador estrangeiro, quando bem pensada, bem articulada e bem executada, é um ato de soberania. Não de submissão. É um sinal de que o país confia em si mesmo o bastante para tomar decisões com autonomia.
Portanto, o momento atual da Seleção Brasileira é mais do que um momento esportivo. É um momento simbólico, político, cultural. É uma oportunidade para reafirmarmos os valores que defendemos: liberdade, mérito, democracia, soberania. Que a experiência de Carlo Ancelotti no comando da Seleção sirva como exemplo para outras áreas. Que possamos aprender, em todos os setores, a valorizar o trabalho bem feito, a buscar o melhor, a dialogar com o mundo sem abrir mão de quem somos. Que a Seleção volte a vencer — não apenas em campo, mas como símbolo de um país que acredita em si mesmo.
Se há algo que o futebol nos ensina, é que os grandes resultados não surgem do acaso. Eles são fruto de trabalho, planejamento, coragem. O Brasil está em campo. E, agora, com um novo técnico, tem também uma nova chance. Que saibamos aproveitá-la com maturidade, lucidez e, acima de tudo, liberdade.
Professor e jornalista Sadraque Rodrigues – Portal Colombense