
moto na pista respeito na lista
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
Publicação nos Portais Tribuna Colombense e Portal Colombense
Introdução
Em meio à vida urbana de Colombo e demais cidades brasileiras, as motocicletas assumem papel essencial no cotidiano das pessoas, especialmente para aqueles que dependem delas como meio de trabalho. Motofretistas, entregadores, e trabalhadores autônomos fazem parte de um mercado crescente que se adaptou às novas necessidades da sociedade moderna, com a agilidade e a economia proporcionadas pela moto. Porém, esse crescimento tem sido acompanhado de desafios significativos, desde a segurança dos condutores até o respeito que muitas vezes lhes é negado nas ruas.
É com o intuito de trazer à tona essa realidade e valorizar a contribuição dos motociclistas que nasce a campanha “Moto tá na pista, respeito na lista”, uma iniciativa que busca sensibilizar a sociedade e as autoridades sobre a importância desses profissionais, ao mesmo tempo em que propõe medidas de respeito, segurança e dignidade para aqueles que desempenham suas funções com coragem e dedicação.
A ideia central da campanha é simples, mas potente: motociclistas são trabalhadores essenciais, e merecem ser reconhecidos, respeitados e protegidos. Este texto busca expor as condições de trabalho dos motociclistas, os desafios que enfrentam diariamente, e as propostas que visam transformar a realidade de todos que vivem sobre duas rodas em Colombo e em todo o Brasil.
A Expansão da Frota de Motocicletas e a Evolução do Mercado
Nos últimos anos, a frota de motocicletas no Brasil cresceu de forma expressiva. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam que, em 2024, o número de motocicletas no Brasil ultrapassou 30 milhões de unidades. Este aumento não é apenas numérico, mas reflete uma mudança nos hábitos da população. A moto tornou-se uma alternativa econômica e rápida para aqueles que buscam vencer o trânsito, transportar mercadorias ou realizar entregas rápidas. Em cidades como Colombo, o crescimento dessa frota é ainda mais evidente.
O Paraná, em particular, tem registrado uma alta considerável no número de motociclistas. Estima-se que na cidade de Colombo haja mais de 60 mil motocicletas, um número que cresce a cada ano com o aumento da informalidade no mercado de trabalho e com a demanda por serviços de entregas rápidas e serviços de mototáxi.
Entre os setores que mais dependem das motos estão as entregas, principalmente no comércio eletrônico, que registrou crescimento acelerado nos últimos anos. Segundo o levantamento feito pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o mercado de entregas por motos no Brasil teve um crescimento de 25% em 2023, impulsionado pela demanda de consumidores por agilidade e por uma logística mais acessível.
Entretanto, esse crescimento exponencial traz consigo desafios estruturais que ainda precisam ser enfrentados pelas autoridades públicas e pela sociedade em geral.
Os Desafios da Segurança e o Alto Índice de Acidentes
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os motociclistas representam 70% das vítimas fatais de acidentes de trânsito no Brasil. Em 2023, o número de acidentes envolvendo motociclistas ultrapassou 100 mil, com mais de 10 mil mortes, o que corresponde a uma média alarmante de quase 30 mortes por dia. O risco enfrentado pelos motociclistas é evidente, e muitos dos acidentes são causados por fatores como a falta de infraestrutura adequada, imprudência de outros motoristas, e até mesmo a falta de fiscalização.
Em Colombo, como em muitas outras cidades, as vias são frequentemente mal conservadas, com buracos e falhas na sinalização, o que torna o percurso ainda mais arriscado para quem se desloca de moto. A falta de ciclovias e faixas exclusivas para motos agrava ainda mais esse problema. Por exemplo, a Avenida Presidente Kennedy, uma das principais vias de Colombo, é frequentemente citada como um exemplo de falhas de infraestrutura para motociclistas, com trechos sem sinalização clara e vias mal sinalizadas.
A situação é ainda mais preocupante entre os motofretistas, que, por dependerem de sua moto para o sustento da família, muitas vezes acabam se expondo a riscos maiores para cumprir prazos de entrega. Esses trabalhadores, ao buscarem aumentar a produtividade, muitas vezes acabam se arriscando ao desrespeitar as leis de trânsito ou ao ignorar os cuidados necessários para garantir a segurança.
Estudos do Ministério da Saúde indicam que 50% dos acidentes fatais com motociclistas poderiam ser evitados com a simples utilização do capacete e com maior fiscalização nas vias públicas, além de melhorias na infraestrutura de transporte.
A Falta de Valorização e o Preconceito
Além dos desafios relacionados à segurança, os motociclistas também enfrentam um grande problema: a falta de valorização. A sociedade, de modo geral, tende a enxergar o motociclista como alguém que está à margem das profissões formais, muitas vezes ignorando o esforço físico e mental que envolve o trabalho de um motofretista ou mototáxi. Eles são frequentemente vistos apenas como prestadores de serviço, sem o devido reconhecimento pelo papel fundamental que desempenham na cidade.
Porém, é importante destacar que os motociclistas têm um papel fundamental na economia de Colombo e de muitas outras cidades brasileiras. Eles são os responsáveis pela agilidade nas entregas, o que faz com que o comércio local tenha uma maior capacidade de resposta às necessidades de seus consumidores. Além disso, os motofretistas são um elo fundamental entre os pequenos comerciantes e seus clientes, levando e trazendo produtos, realizando serviços de forma mais ágil do que os meios de transporte tradicionais.
Infelizmente, muitos motociclistas enfrentam estigmas relacionados à profissão, sendo vistos como “foras da lei” ou como indivíduos que não se encaixam no padrão tradicional de trabalhadores. Isso se deve, em grande parte, ao preconceito social contra trabalhadores informais e à falta de regulamentação específica para a profissão.
Propostas para um Trânsito Mais Seguro e Respeitoso
A campanha “Moto tá na pista, respeito na lista” busca não só conscientizar a sociedade sobre a importância de respeitar os motociclistas, mas também propor mudanças estruturais e sociais que tragam benefícios para todos. Algumas das propostas da campanha incluem:
- Melhorias na Infraestrutura Urbana: O primeiro passo para garantir a segurança dos motociclistas é melhorar a infraestrutura urbana. Colombo precisa implementar mais faixas exclusivas para motos, melhorar a sinalização nas vias e realizar uma manutenção constante das estradas para garantir que estejam em boas condições para o tráfego de motocicletas.
- Campanhas de Conscientização: É fundamental realizar campanhas educativas voltadas tanto para os motociclistas quanto para os motoristas de carros. As campanhas devem incluir informações sobre a importância do respeito no trânsito, a necessidade de se usar equipamentos de segurança, como o capacete, e a importância de uma condução responsável.
- Regulamentação do Mercado de Motofrete: A informalidade é um dos maiores problemas enfrentados pelos motociclistas. A criação de políticas públicas que regulamentem o mercado de motofrete, oferecendo direitos trabalhistas aos motofretistas e garantindo condições de trabalho dignas, é essencial. Isso incluiria a formalização do trabalho, oferecendo acesso a benefícios como assistência médica, seguro de vida e aposentadoria.
- Criação de Ponto de Apoio para Motociclistas: A instalação de pontos de apoio em áreas estratégicas da cidade, como na região central e nos principais bairros comerciais, onde os motociclistas possam descansar, tomar água, fazer uma refeição rápida e se proteger das intempéries, é uma medida simples, mas de grande impacto na qualidade de vida desses profissionais.
- Fiscalização e Penalidades Mais Rigorosas para Quem Desrespeita os Motociclistas: Para garantir que os motoristas de carros respeitem os motociclistas, é necessário intensificar a fiscalização nas ruas. Além disso, as penalidades para quem desrespeitar o espaço dos motociclistas devem ser mais rigorosas, com multas pesadas e, em casos extremos, a suspensão da carteira de habilitação.
Conclusão
A campanha “Moto tá na pista, respeito na lista” não é apenas uma chamada de atenção para a importância dos motociclistas, mas uma proposta concreta para transformar a realidade desses trabalhadores. Quando nos unimos para garantir um trânsito mais seguro, mais respeitoso e mais justo, estamos não só cuidando daqueles que fazem nossa cidade funcionar, mas também garantindo um futuro mais equilibrado e humano para todos.
É necessário que a sociedade compreenda o valor dos motociclistas, não apenas como trabalhadores, mas como cidadãos que merecem respeito e dignidade. Por isso, é essencial que cada um de nós assuma a responsabilidade de construir uma cidade onde o respeito no trânsito seja uma prioridade e onde as motocicletas não sejam apenas vistas como veículos, mas como símbolos de coragem, esforço e resiliência.