Acontece no Sesc Pinheiros nesta sexta-feira (1º), às 21h, o show de lançamento do álbum “Outros Ventos”, do pianista Salomão Soares e da cantora Vanessa Moreno.

Lançado nas plataformas digitais, em junho deste ano, o disco reúne em seu repertório obras de artistas que marcaram a trajetória e influenciaram a linguagem musical do duo, como João Bosco, Joyce Moreno, Guilherme Arantes, Léa Freire e Chico César, que também participa da gravação na faixa “Beradêro”.

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que o pianista, arranjador e compositor paraibano Salomão Soares concedeu ao Música em Letras.

Há quanto tempo você conhece Vanessa Moreno?

Conheço a Vanessa desde que cheguei em São Paulo, em 2011. Lembro de ter ido assistir a um forró do Zé Pitoco [saxofonista e clarinetista], do qual ela também fazia parte. Foi ali que nasceu uma das primeiras amizades que fiz quando cheguei na cidade.

Em se tratando de música, o que mais lhe chamou atenção sobre ela?

Desde o começo, o que mais me chamou atenção foi a musicalidade completa. Para mim, a Vanessa é a cantora mais completa que já vi. Ela domina tudo o que uma cantora precisa dominar.

Em que ela definitivamente se difere de outras cantoras?

Além de afinação, suingue e interpretação, a Vanessa tem uma característica que considero rara: a criatividade. Ela sempre surpreende, mesmo nas músicas que já conhecemos bem.

Complete as frases a seguir: Acompanhar uma cantora é…dividir uma viagem musical. Acompanhar Vanessa Moreno é…mergulhar num mar de criatividade, interação e conexão.

Quais são as dificuldades normalmente encontradas quando se trabalha em duo e como vocês as superaram?

A formação em duo traz infinitas possibilidades de concepção musical. Por outro lado, muita coisa já foi feita nesse formato. Nosso grande desafio foi encontrar o nosso próprio caminho, o nosso jeito de tocar juntos. Mas isso aconteceu de forma muito natural, sem forçar nada. Simplesmente foi surgindo.

Musicalmente, o que esse duo tem ensinado para você?

Tocar com a Vanessa sempre me estimula a buscar novos caminhos para músicas que já tocamos. O mais bonito é que eu sei que posso ir para qualquer lugar, porque temos uma afinidade musical tão grande que ela capta tudo e vem junto.

Em duo, vocês gravaram “Chão de Flutuar” (2019) e “Yatra-tá” (2021). Defina o conceito desses dois álbuns e fale sobre o conceito de “Outros Ventos”. Em que ele se difere dos anteriores?

Os dois primeiros álbuns têm um conceito parecido: são releituras do cancioneiro brasileiro sob o nosso ponto de vista. “Outros Ventos” segue essa linha, mas com uma abordagem mais ousada. Adicionamos novos elementos, como diferentes timbres de teclados além do piano, e a Vanessa gravou várias vozes, criando uma camada vocal mais rica e profunda.

Onde e em quanto tempo foi gravado “Outros Ventos”?

Gravamos no Estúdio Gargolândia, do querido Rafael Altério, que inclusive foi peça fundamental no nascimento do nosso duo. Nada disso teria acontecido sem ele. Passamos três dias no estúdio gravando.

Quais foram as dificuldades encontradas para gravar este álbum e como elas foram superadas?

Acredito que a maior dificuldade foi chegar à ideia de incorporar outros elementos nas músicas, como os teclados e as camadas vocais. A gente ficou refletindo bastante sobre o que poderia trazer uma novidade para este álbum, algo que ainda não havíamos explorado nos anteriores. Esse processo de buscar o novo, sem perder nossa essência, foi um desafio criativo importante.

Faça um faixa a faixa de “Outros Ventos”.

“Vento de Maio”, de Telo Borges e Márcio Borges

É a faixa que abre o disco, uma composição maravilhosa desses mineiros que admiro profundamente. Gravei piano e também um solo de teclado, e a Vanessa adicionou um coro com várias vozes, enriquecendo ainda mais a atmosfera da música.

“Drão”, de Gilberto Gil

Um clássico absoluto do Gil. A gente buscou respeitar a profundidade da canção, trazendo nossa interpretação com muito carinho.

“Sapato Velho”, de Mu Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós

Conheci essa música ainda criança pela versão do Roupa Nova. Sempre achei ela quase impossível de tocar por conta da quantidade de acordes. Fiquei muito feliz de incluí-la no álbum com uma nova leitura.

“Chiclete com Banana”, de Gordurinha, Almira Castilho e Jackson do Pandeiro

Muito conhecida na voz do Jackson do Pandeiro. Fizemos uma brincadeira com os andamentos, explorando diferentes pulsos e texturas rítmicas.

“Canto de Xangô”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes

Um afro-samba muito forte e simbólico. Nessa faixa, adicionamos vários sintetizadores que ampliam a ambientação e reforçam a espiritualidade da música.

“Um Dia, Um Adeus”, de Guilherme Arantes

Guilherme é um dos nossos compositores favoritos. Queríamos trazer uma balada dele para o disco e essa canção nos tocou muito. A interpretação ficou bem íntima e emocional.

“Tatá Engenho Novo”, de Marlui Miranda

Conheci essa música no álbum “Sol de Oslo”, do Gil. É um coco com uma letra incrível. A gente procurou manter a força rítmica original, mas com a nossa cara.

“O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc

Essa música é quase um segundo hino do Brasil. Fizemos uma versão bem diferente da tradicional: uma balada mais lenta, justamente para dar ainda mais destaque à letra genial do Aldir.

“Samba de Mulher”, de Léa Freire e Joyce Moreno

Um samba já cheio de suingue na sua essência. São duas compositoras incríveis que admiramos muito, e buscamos manter a energia feminina e pulsante que a música carrega.

“Beradêro”, de Chico César

Essa canção é especial. Um aboio moderno, carregado de força poética e ancestral. O Chico é uma grande inspiração para nós e sua participação foi um presente imenso.

Quem é responsável pelos arranjos de “Outros Ventos”?

Os arranjos de piano normalmente eu faço, mas no geral vamos concebendo tudo juntos, construindo as ideias.

O lançamento de “Outros Ventos” aconteceu nas plataformas digitais no dia 13 de junho deste ano. Quantos shows já foram realizados?

O lançamento oficial, ao vivo, será no dia primeiro de agosto, no Sesc Pinheiros. Até agora, estávamos incluindo algumas músicas do disco em shows anteriores, mas o repertório completo será apresentado pela primeira vez nessa data.

O álbum será lançado em formato físico?

Por enquanto, o lançamento será apenas digital.

Comente a participação de Chico César em “Beradêro” e descreva essa música no disco.

O Chico é uma grande inspiração para nós. Ficamos imensamente felizes com sua participação no álbum. “Beradêro” é uma das minhas músicas preferidas do cancioneiro brasileiro. É um aboio, aquele canto tradicional dos sertanejos para o gado no sertão nordestino. Além disso, traz uma das frases mais lindas da música brasileira: “A cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire”.

Qual é a atual situação da música popular brasileira? Qual a importância do álbum “Outros Ventos” dentro desse cenário? E em que o duo de vocês mais se diferencia de outros duos?

A música brasileira está passando por uma grande transformação. Nosso duo tem como proposta revisitar obras consagradas da nossa canção, trazendo esse repertório para a nossa geração com uma nova estética. Trazemos uma sonoridade muito voltada para a rítmica. A Vanessa tem um suingue único e uma musicalidade muito intuitiva, e eu amo explorar caminhos rítmicos ao piano. Esse diálogo constante entre a voz e o piano, com tanta liberdade e inventividade, é um dos nossos maiores diferenciais.

Por que as pessoas devem assistir ao show de lançamento deste álbum?

Porque será a primeira vez que iremos apresentar ao vivo o repertório completo. É um momento especial. Ouvir o disco em casa ou no fone é uma experiência. Mas nada se compara à magia de assistir ao vivo. Existe uma troca real entre o palco e o público, algo que só acontece naquele instante, naquele espaço. É único. Por isso, esperamos todos vocês para viver esse momento com a gente.

O que o público irá ouvir no show que não está no álbum?

Além do repertório completo do disco, o show ao vivo traz improvisos, interações, nuances e intensidades que só acontecem naquele instante. Há algo de imprevisível e mágico que só o palco oferece. Quem for vai viver uma experiência única.

LANÇAMENTO ÁLBUM ‘OUTROS VENTOS’

ARTISTAS Salomão Soares e Vanessa Moreno

QUANDO Sexta-feira (1º), às 21h

ONDE Sesc Pinheiros, Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, tel. (11) 3095-9400

QUANTO De R$ 18 a R$ 60



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