
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
Na última terça-feira (23), o Brasil testemunhou um marco jurídico e social que, embora tardio, ressoa como uma resposta firme à intolerância racial que ainda insiste em manchar os campos esportivos do país. Um torcedor do Coritiba Foot Ball Club foi condenado pela Justiça do Paraná por injúria racial cometida contra o fotógrafo Franklin de Freitas, durante uma partida de futebol em 2024. A decisão é a primeira no país a aplicar a conhecida “Lei Vini Jr.” — norma inspirada nos frequentes casos de racismo sofridos pelo jogador brasileiro Vinícius Júnior na Europa.
A condenação representa mais do que a punição de um crime isolado. É o reconhecimento de que a liberdade de expressão não pode — e não deve — ser confundida com liberdade para ofender, agredir ou diminuir o próximo com base em sua cor de pele. É também um lembrete de que a civilidade deve prevalecer sobre a selvageria disfarçada de paixão esportiva.
A sentença que faz história
O réu, um torcedor de 65 anos, foi condenado a três anos e 28 dias de prisão em regime semiaberto, além do pagamento de indenização por danos morais. O crime ocorreu durante um jogo entre Coritiba e Brusque, no estádio Couto Pereira, em Curitiba. O fotógrafo Franklin de Freitas, um profissional experiente e respeitado na imprensa paranaense, foi chamado de “preto filho da p…” em alto e bom som, numa agressão explícita e inaceitável.
A sentença do juiz Fernando Bardelli foi clara: o crime não será tolerado, especialmente em locais que deveriam ser de convivência, como os estádios. O magistrado ainda fez questão de lembrar que a sociedade exige posturas firmes diante de um mal que insiste em se perpetuar.
Ao aplicar a “Lei Vini Jr.”, sancionada em 2023, o juiz confirmou o que muitos já esperavam: o Brasil não está mais disposto a tolerar o racismo velado, e muito menos o escancarado.
O conservadorismo que respeita a dignidade
Como conservador, defendo valores como a ordem, a moral, a responsabilidade individual e o respeito às tradições. E justamente por isso é que acredito que práticas racistas merecem todo o repúdio da sociedade e punições firmes por parte do Estado.
Racismo não é uma questão de opinião — é um desvio moral e um crime previsto em lei. O respeito ao próximo, à sua história e à sua dignidade é base fundamental de qualquer sociedade ordenada. A ideia de que o racismo seria um “mimimi” ou uma “vitimização” fabricada é falaciosa e desonesta. Não se trata de coibir liberdade, mas de lembrar que toda liberdade vem acompanhada de responsabilidade.
Não se combate o politicamente correto com o moralmente incorreto. Se queremos um país mais justo, precisamos começar exigindo respeito — não apenas do Estado, mas de cada cidadão.
A importância da denúncia
O que torna esse caso emblemático não é apenas a condenação, mas o fato de a vítima ter denunciado, buscado seus direitos e recebido apoio. Franklin de Freitas não se calou. Fez o que todos devemos fazer diante da injustiça: resistir.
Quantos casos semelhantes são abafados? Quantos torcedores e profissionais negros — fotógrafos, repórteres, jogadores, árbitros — escutam ofensas sem que nada aconteça? Esse julgamento mostra que o silêncio não pode ser a regra. A denúncia é o primeiro passo para a transformação.
O papel dos clubes e da sociedade
O Coritiba, vale destacar, cumpriu sua parte institucional e excluiu o torcedor de seu quadro de sócios. É um gesto que, embora simbólico, envia uma mensagem necessária: o racismo não representa o clube, nem deve representar o futebol brasileiro. Essa postura deve ser exemplo para outras instituições.
Mas a responsabilidade vai além dos clubes. É da família, da escola, das igrejas e, claro, da mídia. Todos temos o dever de ensinar — e praticar — o respeito. A educação é, talvez, a ferramenta mais poderosa para erradicar o racismo estrutural que ainda habita certas camadas da nossa sociedade.
O Brasil que queremos
O caso de Curitiba é simbólico e, ao mesmo tempo, alarmante. Mostra que, mesmo em pleno 2025, ainda convivemos com atitudes que nos remetem a séculos passados. Mas também mostra que há uma nova consciência jurídica e social se formando.
O conservadorismo verdadeiro não é cúmplice da ignorância nem da violência. É aliado da justiça, da ordem e da moral. Defender a punição de crimes como o racismo não é adotar pautas da esquerda, como alguns erroneamente afirmam, mas assumir uma postura ética, humana e, acima de tudo, cristã.
O Brasil que queremos é um país onde o mérito seja valorizado, sim, mas onde todos tenham as mesmas condições de competir. Um país que defende a família e, ao mesmo tempo, combate toda forma de opressão. Um Brasil onde ninguém seja julgado por sua cor, mas por suas atitudes e seu caráter.
Conclusão
A condenação histórica no Paraná é uma vitória da justiça, da dignidade e da civilização. É também uma vitória do Brasil que não se cala. Do Brasil que se levanta para dizer, em alto e bom som: aqui, o racismo não tem vez.
Que esse caso inspire outras decisões, outras vítimas, outros profissionais. Que sirva de alerta aos que ainda acreditam que podem esconder sua covardia atrás de uma arquibancada ou de um teclado.
A liberdade, afinal, só é plena quando todos podem vivê-la com respeito.
Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
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