
A Cultura Brasileira: Entre o Brilho do Oscar e a Sombra do Esquecimento Local
O recente brilho do Oscar, com a celebração do talento brasileiro no cinema mundial, reacendeu um debate crucial sobre a cultura em nosso país. É inegável o talento e a criatividade de nossos artistas, que conquistam reconhecimento e admiração mundo afora. No entanto, é preciso questionar se essa celebração não ofusca uma realidade preocupante: a disparidade gritante entre o investimento na cultura nacional e o abandono das manifestações culturais locais.
Enquanto produções cinematográficas e musicais de grande porte recebem generosos incentivos e patrocínios, artistas e grupos culturais de nossos municípios lutam para sobreviver. Festas tradicionais, grupos folclóricos e manifestações artísticas que preservam a identidade e a história de nossa gente agonizam por falta de apoio. Essa dicotomia revela uma visão distorcida da cultura, que privilegia o espetáculo em detrimento da essência. A cultura não se resume a grandes eventos e premiações; ela pulsa nas ruas, nos bairros, nas comunidades que preservam suas tradições e costumes.
É preciso repensar o modelo de investimento cultural, priorizando o apoio às manifestações locais, que são a base de nossa identidade e a garantia de que nossa cultura não se torne um mero produto de exportação. A politização da cultura também é um fator preocupante. A utilização de recursos públicos para financiar projetos que atendem a interesses ideológicos ou partidários desvirtua o papel da cultura como instrumento de transformação social e de preservação da memória. É preciso defender a cultura como um direito de todos, independentemente de sua origem, crença ou ideologia. A cultura deve ser um espaço de diálogo, de encontro, de celebração da diversidade que nos torna únicos.
A recente premiação do Oscar, embora motivo de orgulho para o Brasil, serve como um lembrete da necessidade de um olhar mais atento e cuidadoso para a cultura em sua totalidade. É preciso ir além dos holofotes e reconhecer o valor das manifestações culturais locais, que são a verdadeira expressão de nossa identidade e a garantia de um futuro mais justo e igualitário.
Professor e jornalista Sadraque Rodrigues