Por professor, jornalista e escritor Sadraque Rodrigues
Para o Portal Colombense


O amanhecer do leste europeu foi marcado por um espetáculo de destruição e caos, quando a Rússia desencadeou, neste domingo, 25 de maio, um dos mais vastos e coordenados ataques aéreos já registrados contra alvos ucranianos desde o início das hostilidades em 2022. O bombardeio, que antecedeu uma importante troca de prisioneiros entre os dois países, deixou dezenas de mortos, centenas de feridos e uma nação inteira em alerta máximo.

A investida não foi apenas um ato militar; foi também um recado estratégico, dado com precisão cirúrgica e devastadora. As sirenes soaram incessantemente em várias cidades, entre elas Kiev, Kharkiv, Lviv, Dnipro e Mykolaiv, cujos céus foram preenchidos por rastros de fogo, nuvens de fumaça e o som ensurdecedor de mísseis em curso. A ofensiva atingiu infraestruturas civis e militares, deixando um rastro de destruição e interrompendo serviços essenciais em diferentes regiões do país.

Segundo autoridades ucranianas, foram disparados simultaneamente centenas de projéteis de diferentes tipos — desde mísseis de cruzeiro lançados de navios no Mar Negro até drones kamikazes de fabricação estrangeira. Parte considerável do arsenal foi neutralizada pelas defesas ucranianas, mas um número expressivo rompeu o escudo defensivo, alcançando bairros residenciais, centrais elétricas, hospitais e centros logísticos. O saldo trágico, até o momento, contabiliza ao menos 38 mortes, entre elas crianças e idosos, e mais de 150 feridos — muitos em estado crítico.

Enquanto ambulâncias se multiplicavam pelas ruas e voluntários escavavam escombros em busca de sobreviventes, imagens de famílias desesperadas correram o mundo. O impacto psicológico foi tão profundo quanto o físico. Em Kiev, uma escola primária foi destruída por um míssil supersônico, ceifando a vida de quatro crianças. Em Zaporizhzhia, uma maternidade foi atingida, forçando a evacuação de recém-nascidos em meio aos destroços. Em Lviv, uma usina elétrica explodiu, deixando milhares sem luz ou aquecimento.

A comunidade internacional condenou veementemente o ataque. Líderes europeus classificaram a ação como uma “ofensiva desumana e desproporcional”, enquanto os Estados Unidos convocaram uma reunião emergencial no Conselho de Segurança da ONU. A União Europeia anunciou o reforço imediato de apoio humanitário à Ucrânia, incluindo envio de geradores, suprimentos médicos e especialistas em resgate. A OTAN, por sua vez, declarou que o ataque justifica nova ampliação da presença militar aliada na região do Báltico, elevando a tensão com Moscou.

Apesar da brutalidade da ação russa, o episódio contrasta ironicamente com um gesto humanitário executado poucas horas depois: uma troca histórica de prisioneiros de guerra entre Ucrânia e Rússia. Ao todo, cerca de 1.300 combatentes — aproximadamente 650 de cada lado — foram libertados e retornaram a seus países de origem em uma operação coordenada com apoio da Cruz Vermelha e mediação de estados neutros. A cena dos soldados regressando às suas famílias, mesmo sob o eco das explosões, gerou comoção e reacendeu brevemente a esperança de paz.

Analistas internacionais interpretam o ataque como uma demonstração de força do Kremlin diante de recentes perdas territoriais no leste da Ucrânia e da aproximação de Kiev com a União Europeia. A decisão de lançar a ofensiva às vésperas da troca de prisioneiros sugere uma tentativa de reposicionar Moscou em uma eventual nova rodada de negociações. Ao mesmo tempo, os analistas alertam para os riscos dessa escalada: a resposta ocidental pode envolver armamentos mais avançados e apoio logístico ampliado à resistência ucraniana.

Na esfera interna, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky realizou um pronunciamento televisionado nas primeiras horas do dia, condenando veementemente o ataque e reafirmando que a Ucrânia não será intimidada. “Não nos renderemos diante da barbárie. Resistiremos com dignidade e força, como temos feito desde o primeiro dia”, declarou, sendo aplaudido por parlamentares e populares reunidos em praça pública. Zelensky também anunciou luto nacional de três dias e prometeu indenizações às famílias das vítimas.

Do lado russo, o Ministério da Defesa afirmou que a operação visava alvos estratégicos ligados ao comando e controle do exército ucraniano, e que a ação seguiu critérios militares legítimos. O Kremlin ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ataque, mas fontes diplomáticas indicam que o presidente Vladimir Putin teria aprovado pessoalmente a ofensiva, em resposta a recentes ações militares ucranianas nas proximidades da Crimeia e do Donbas.

O ataque também reacende o debate sobre a utilização de armamentos de origem não-russa na guerra. Entre os projéteis utilizados estavam drones com tecnologia iraniana e mísseis de procedência ainda não confirmada, mas com indícios de colaboração externa. A ampliação do escopo de fornecedores de armas para ambos os lados do conflito coloca em xeque os esforços de desescalada promovidos por instituições multilaterais e aumenta o risco de uma guerra por procuração envolvendo grandes potências.

A situação humanitária nas áreas atingidas é crítica. Equipes da ONU e ONGs relatam falta de alimentos, água potável e atendimento médico em comunidades inteiras. As temperaturas ainda amenas não aliviam o sofrimento de quem perdeu tudo. Crianças abrigadas em escolas improvisadas tentam dormir em meio ao barulho de sirenes. Voluntários da Cruz Vermelha descrevem cenas comoventes de reencontros e despedidas. Muitas famílias agora vivem separadas, sem contato com parentes que estavam em zonas atingidas.

Em meio a tanta dor, surgem também histórias de resiliência. Uma idosa de 82 anos resgatou quatro vizinhos dos escombros usando apenas uma pá de pedreiro. Um médico ferido no bombardeio de Odessa recusou atendimento até que todos os pacientes fossem transferidos. Em Kharkiv, músicos reuniram-se em um abrigo antiaéreo e tocaram uma versão improvisada do hino nacional, emocionando dezenas de civis que choravam em silêncio.

Observadores da OSCE pedem que ambas as partes respeitem o direito internacional humanitário e evitem ações que coloquem civis em risco. Embora o ataque possa ter enfraquecido temporariamente as capacidades logísticas ucranianas, não há indicativos de que isso mude substancialmente o equilíbrio de forças no terreno. Ao contrário, pode galvanizar o apoio global à Ucrânia, trazendo consequências imprevistas para Moscou no cenário diplomático.

A troca de prisioneiros, embora eclipsada pelo ataque, representa um raro momento de entendimento mútuo. Soldados russos e ucranianos foram recebidos com flores, lágrimas e aplausos por seus entes queridos. Muitos retornaram com traumas físicos e psicológicos, mas vivos. Alguns afirmaram desejar apenas “voltar a viver em paz”. O gesto simbólico de libertar combatentes pode ser uma semente de diálogo, mesmo em solo ensanguentado.

Ao fim do dia, a Ucrânia permaneceu firme. As luzes da capital foram acesas novamente, e os sinos das igrejas soaram em honra aos mortos. A guerra, porém, segue. A comunidade internacional tem, mais uma vez, a responsabilidade de agir — não apenas com discursos, mas com medidas efetivas que conduzam ao cessar-fogo e, sobretudo, à reconstrução de uma nação dilacerada.


Professor, jornalista e escritor Sadraque Rodrigues
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Colombo, 25 de maio de 2025

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