São estarrecedoras as imagens do assassinato de um suspeito já rendido por dois policiais militares durante operação na favela Paraisópolis, em São Paulo, na última quinta (10).

O caso é mais um que evidencia como o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem dificuldade em aliar o necessário combate ao crime com uma ação criteriosa da Polícia Militar, sob comando do secretário de Segurança Pública do estado, e também deputado federal, Guilherme Derrite (PL) —notório defensor de uma política linha-dura no setor.

Igor Oliveira de Moraes Santos, 24, era suspeito de tráfico de drogas e estava escondido numa casa onde o homicídio ocorreu.

A morte desencadeou protestos na região, com depredações e queima de pneus. Na sexta (11), dois policiais foram presos, após análise das câmeras corporais, que atestaram abuso de força.

O suspeito, encontrado rendido com as mãos atrás da cabeça, agachado atrás de uma cama, claramente não oferecia perigo.

O coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da PM, disse que o ato foi ilegal, que os policiais sabiam do erro e que “a falta de treinamento não pode ser alegada para o cometimento de algumas ações que são dolosas”. Mas a repetição desse tipo de ocorrência indica treinamento precário e outros problemas.

No começo do mês, um marceneiro morreu após ser baleado atrás da cabeça por um PM de folga; em novembro de 2024, foram três homicídios causados pelas forças de segurança, incluindo uma criança de 4 anos; em dezembro, assistiu-se à cena grotesca de um rapaz sendo jogado da ponte por um PM.

À época, Derrite alegou serem episódios isolados. Por óbvio, não são. Em 2023, primeiro ano da gestão Tarcísio, foram registradas 504 mortes provocadas por policiais, uma alta de 20% em relação ao ano anterior. Em 2024, foram 814 —63% a mais do que em 2023. No primeiro trimestre deste ano, já são 163.

Sobre Paraisópolis, o governador afirmou que não vai tolerar ilegalidade, mas ações efetivas importam mais do que palavras.

A decisão de seu governo de não usar mais o modelo ininterrupto de gravação das câmeras corporais, por exemplo, é questionada por especialistas. No caso do assassinato de Igor, as imagens só foram captadas porque um policial decidiu ativar sua câmera, o que imediatamente aciona por bluetooth outros dispositivos num raio de 20 metros.

É preciso investir cada vez mais nas câmeras e refinar os protocolos. O treinamento dos agente também precisa ser melhorado. A impunidade, que incentiva abusos, deve ser contida com fortalecimento de órgãos internos e externos de controle.

O fato de o estado ter a menor taxa de homicídios do país, sempre ressaltado pelo governo, não justifica a violência de sua polícia. Nada justifica. São Paulo não tolera mais o morticínio causado por agentes públicos que têm a missão de proteger vidas.

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