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Em um cenário em que a arte, tantas vezes, é deixada em segundo plano, uma nova melodia ecoa pelas ruas de Colombo. É um som que não vem apenas dos instrumentos, mas do coração de uma comunidade que redescobre sua identidade por meio da cultura. Estamos falando do Projeto CifraCol — uma ação simples, sincera e profundamente transformadora. Um projeto nascido do desejo de fazer mais com menos, de unir vozes, histórias e sonhos em uma só partitura.
Fomos convidados a fazer parte desse movimento pelo professor e jornalista Sadraque Rodrigues, idealizador do projeto, figura incansável na luta por uma cidade mais justa, educadora e culturalmente viva. Ele não nos entregou um plano pronto. Ele nos ofereceu um convite: “vamos construir juntos?” E nós fomos. Com nossos violões nas costas, nossas letras rabiscadas em folhas soltas, nossas vozes tímidas no início, mas cheias de vontade de se expressar.
O CifraCol não tem luxo, não tem palco fixo, não tem holofotes. Mas tem alma. E isso nos basta. Cada sábado à tarde, nos reunimos em algum canto da cidade — seja em uma praça, no pátio de uma escola ou na garagem de alguém disposto a abrir espaço — para viver algo que vai além da música. Compartilhamos histórias, emoções, aprendizados e afeto. Trazemos conosco nossa bagagem, nossa verdade, nossos ritmos.
É emocionante ver um adolescente que, até pouco tempo atrás, jamais havia encostado em um instrumento, hoje afinando um violão com os olhos brilhando de orgulho. É tocante ouvir um senhor cantarolar uma canção antiga, daquelas que embalaram romances e resistências, e ser acompanhado por jovens que jamais haviam escutado aquele som antes. É ali, nesse encontro de gerações, que o CifraCol pulsa mais forte.
Rejeitamos a ideia de que cultura precisa ser algo distante, burocrático ou institucionalizado. Acreditamos que ela mora onde o povo está. A música é um direito, uma ferramenta poderosa de educação, de inclusão, de transformação. Por isso, fazemos questão de manter o projeto acessível. Tudo pode ser aprendido de forma simples, compartilhada. Cada novo integrante é bem-vindo e valorizado. Cada acorde aprendido é uma vitória coletiva.
Não buscamos perfeição técnica. Buscamos pertencimento. Ninguém é excluído por errar o tom. Ao contrário: celebramos cada tentativa como parte do processo. Porque no CifraCol, errar é humano e cantar junto é libertador. Ali, nos tornamos mais próximos. Nos reconhecemos no outro. Formamos uma grande família musical, onde todos têm algo a ensinar e muito a aprender.
O professor Sadraque sempre diz que não se trata apenas de ensinar cifras. Trata-se de ensinar esperança. Quando ele nos chama para tocar, está nos chamando, na verdade, para viver. Para sair da rotina, do medo, da apatia. Para sentir. Para lembrar que somos capazes de criar beleza mesmo em meio às dificuldades. E nós entendemos. Porque, ao longo dos encontros, também nos tornamos multiplicadores desse espírito.
Hoje, somos dezenas. Amanhã, seremos centenas. E não vamos parar. Porque a música encontrou seu espaço em nossos corações. E porque descobrimos que, juntos, conseguimos muito mais. Já levamos o CifraCol a escolas, a bairros esquecidos, a eventos comunitários. E por onde passamos, deixamos sorrisos, lembranças e a certeza de que a arte pode, sim, mudar o mundo — mesmo que um pedacinho de cada vez.
A beleza do CifraCol está na simplicidade. No gesto de emprestar um instrumento, de ensinar um acorde, de ouvir com atenção. Está em ver uma criança acompanhar o pai no violão, em ver jovens trocando letras autorais, em ver senhoras aprendendo batidas no pandeiro. Está em nos sentirmos parte de algo maior — de uma rede de afetos e de construção de sentido.
Ao idealizar o projeto, Sadraque Rodrigues reacendeu em todos nós o desejo de fazer parte de uma cidade viva. Ele nos deu mais que um projeto musical. Deu-nos um propósito coletivo. Um motivo para esperar o sábado com ansiedade, para sair de casa, para ocupar os espaços públicos com cultura e poesia.
Não temos apoio financeiro, não temos produção elaborada, não temos patrocínio. Temos o essencial: vontade. Temos comunidade. Temos talento. E temos o sonho — este, inegociável — de ver a cultura florescendo em Colombo como floresce a canção na boca de quem ama o que faz.
Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente. Queremos mais instrumentos, mais oficinas, mais espaços. Mas o mais importante já conquistamos: o sentimento de que somos capazes. De que a música pode ser linguagem de paz, de resistência e de amor. De que podemos transformar nossa realidade uma canção por vez.
O CifraCol é mais do que um projeto. É um movimento de reencantamento. Uma partitura em constante escrita coletiva. E nesta grande canção que estamos compondo juntos, cada um de nós é nota essencial. Continuaremos afinando nossos sonhos, nossos talentos e nossas relações. Porque a melodia da transformação já começou. E ela não será mais silenciada.