
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
Nas últimas semanas, o debate político no Brasil ganhou um novo combustível: a proposta de fim da reeleição para cargos do Executivo. De tempos em tempos, esse tema retorna aos holofotes com força, impulsionado por crises institucionais, escândalos de corrupção ou mudanças de humor na opinião pública. Mas desta vez, o debate parece mais consistente, ganhando espaço real na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e, acima de tudo, no imaginário popular.
A proposta, que pretende extinguir a possibilidade de reeleição para presidentes, governadores e prefeitos, tem como pano de fundo um velho dilema da democracia brasileira: como equilibrar continuidade administrativa com renovação política? É uma questão que vai além das siglas partidárias, pois toca no coração do nosso modelo republicano e na forma como concebemos o poder.
A história por trás da reeleição
A reeleição para cargos do Executivo foi instituída em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Até então, prefeitos, governadores e presidentes só podiam cumprir um único mandato de quatro anos. A justificativa, na época, foi garantir a continuidade de políticas públicas exitosas. Mas a emenda constitucional veio acompanhada de muitas críticas — inclusive de setores que viam na medida uma porta aberta para o uso da máquina pública em benefício eleitoral.
Mais de duas décadas depois, os efeitos da reeleição estão à mostra. Alguns analistas argumentam que ela contribuiu para maior estabilidade política e para a consolidação de políticas de longo prazo. Outros apontam que a reeleição desequilibra a competição democrática, beneficia quem já está no poder e alimenta práticas clientelistas e patrimonialistas.
O que está sendo proposto agora?
A proposta que tramita atualmente no Senado vai além da simples proibição da reeleição. Ela sugere também o aumento do mandato de quatro para cinco anos e a unificação das eleições a cada cinco anos para todos os cargos — municipais, estaduais e federais. Em tese, essa reestruturação visa reduzir custos, ampliar a representatividade e tornar o sistema político mais coeso.
Os defensores da PEC argumentam que a medida trará maior oxigenação aos quadros do poder, dificultará o uso da máquina pública para fins eleitorais e reduzirá a personalização da política, que hoje gira, muitas vezes, em torno de figuras individuais e não de projetos coletivos. Já os críticos afirmam que a mudança pode gerar descontinuidade administrativa e dificultar a consolidação de programas de médio e longo prazo, além de aumentar a tentação do populismo nos últimos anos de mandato.
E a população, o que pensa?
Embora a proposta esteja sendo debatida nas instâncias do poder federal, o reflexo desse debate ecoa nas cidades, inclusive aqui em Colombo. Em conversas com moradores, comerciantes, professores e líderes comunitários, percebe-se uma sensação generalizada de cansaço com a política tradicional. A reeleição, para muitos, é vista como um dos principais mecanismos de perpetuação de oligarquias locais.
Dona Silvana, comerciante na região do Guaraituba, resume o sentimento de muitos: “A gente vota, acredita na mudança, mas quando chega a hora de trocar, é o mesmo prefeito pedindo mais quatro anos. A cidade não muda e quem manda continua o mesmo grupo”. Já para o jovem universitário Gabriel, morador da região do Maracanã, a reeleição “tem seu valor quando o gestor é bom, mas raramente o bom permanece sem virar político de carreira”.
É essa dualidade que torna o tema tão complexo. A reeleição, em si, não é nem boa nem ruim. O problema está em como ela é usada — ou, em muitos casos, abusada.
O retrato em Colombo
Na política local, a questão da reeleição também desperta debates. Colombo já teve gestões consecutivas marcadas tanto por continuidade de projetos quanto por denúncias de favorecimento pessoal e fisiologismo. O eleitorado colombense tem mostrado, nas urnas, um perfil cada vez mais exigente — o que torna a renovação algo natural, mesmo com a possibilidade da reeleição.
Além disso, uma nova geração de lideranças tem emergido, questionando o sistema atual. Nomes como Thiago de Jesus, que têm se destacado por propostas inovadoras e linguagem conectada com a juventude, veem a política como um espaço de passagem e não como um projeto de carreira vitalício. “O cargo público é uma missão temporária. O problema é que muita gente se agarra ao poder como se fosse propriedade”, comentou Thiago em uma entrevista recente ao Painel Colombense.
Esses novos atores políticos trazem uma perspectiva mais ética, mais comprometida com a transparência e mais alinhada às novas demandas sociais. Eles enxergam o fim da reeleição não como uma punição, mas como uma oportunidade de ampliar a participação e abrir espaço para novas vozes.
Mandato maior e eleições unificadas: solução ou ilusão?
Outro ponto delicado da proposta é a ampliação do mandato para cinco anos. A ideia é que esse período seja suficiente para um gestor implementar políticas estruturantes sem a pressão imediata da próxima eleição. No papel, parece uma boa ideia. Mas será que um ano a mais faria tanta diferença assim?
Além disso, a unificação das eleições pode baratear os custos, sim — mas também corre o risco de sufocar debates locais em meio à polarização nacional. Imagine um eleitor tendo que decidir, no mesmo dia, o presidente da República, o governador, o senador, o deputado federal, o deputado estadual e ainda o prefeito e os vereadores. Qual espaço teria o debate municipal nesse cenário?
E agora?
A proposta ainda tem um longo caminho a percorrer no Congresso. Precisa passar por comissões, ser aprovada em dois turnos no Senado e depois na Câmara dos Deputados. Há resistência em vários partidos, especialmente aqueles com forte tradição de caciquismo político. Mas o fato de estar em discussão já é, por si só, um avanço.
A democracia se faz com diálogo, e não com verdades absolutas. O fim da reeleição pode ser um passo importante na modernização do sistema político brasileiro, mas não será uma panaceia. Sem reformas estruturais no financiamento de campanha, na educação política da população e na fiscalização da gestão pública, qualquer mudança corre o risco de ser apenas cosmética.
Conclusão
“Fim da reeleição para o Executivo, será?” — a pergunta que dá título a esta reportagem não é apenas retórica. Ela carrega consigo o peso da incerteza, mas também da esperança. O Brasil tem a oportunidade de redesenhar suas bases democráticas, de tornar o poder menos pessoal e mais institucional.
Em Colombo, como em tantas outras cidades, o povo anseia por mudanças que vão além do discurso. O desejo por alternância no poder não é antipolítica. Pelo contrário, é a essência da democracia em sua forma mais legítima.
Talvez o fim da reeleição seja o início de uma nova era. Ou, no mínimo, o fim de um ciclo que já deu o que tinha que dar.