
Mais de 500 ex-funcionários da Segurança de Israel, incluindo ex-diretores do Mossad, a agência de inteligência externa, e do Shin Bet, o serviço de segurança interna, pediram ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pressione o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu para interromper a guerra na Faixa de Gaza.
“Exortamos que acabe com a guerra em Gaza. O senhor fez isso no Líbano. É hora de fazer o mesmo em Gaza”, afirmam os Comandantes pela Segurança de Israel (CIS) no documento, assinado por 550 ex-chefes de espionagem, militares, policiais e diplomatas e divulgado nesta segunda-feira (4).
Em um vídeo separado, Ami Ayalon, ex-diretor do Shin Bet, afirma que o conflito “deixou de ser uma guerra justa e está levando o Estado de Israel a perder sua segurança e identidade”.
A manifestação ocorre em meio a relatos de que o premiê israelense quer ampliar as operações em Gaza ao mesmo tempo em que o Estado judeu é amplamente criticado, inclusive por aliados, por cenas de palestinos desnutridos no território, que enfrenta um bloqueio de ajuda desde o início da guerra, em outubro de 2023.
Nesta segunda, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que mais cinco pessoas morreram de fome ou desnutrição nas últimas 24 horas. A informação eleva o número de pessoas que morreram de fome ao longo do conflito para 180, incluindo 93 crianças.
Entre os signatários da carta estão três ex-diretores do Mossad (Tamir Pardo, Efraim Halevy e Danny Yatom); cinco ex-diretores do Shin Bet (Nadav Argaman, Yoram Cohen, Ami Ayalon, Yaakov Peri e Carmi Gilon); e três ex-comandantes do Estado-Maior do Exército (Ehud Barak, Moshe Bogie Yaalon e Dan Halutz).
“Cada uma dessas pessoas participou das reuniões do gabinete, atuou nos círculos mais confidenciais, participou em todos os processos de tomada de decisão mais sensíveis, mais delicados”, destaca uma voz em off do vídeo divulgado na rede social X pelo UnXeptable, um grupo de israelenses expatriados que liderou protestos contra Netanyahu em diversas partes do mundo. “Juntos, têm mais de mil anos de experiência em segurança nacional e diplomacia.”
“Estamos à beira da derrota”, comenta na peça o ex-diretor do Mossad Tamir Pardo. “O que o mundo está testemunhando hoje é o que estamos fazendo”, diz, sobre as condições humanitárias desastrosas em Gaza. “Nos escondemos atrás de uma mentira que geramos. Essa mentira foi vendida ao público israelense, e o mundo entendeu há muito tempo que não reflete a realidade.”
Já o ex-diretor do Shin Bet Yoram Cohen afirma que “fanáticos messiânicos” no governo levaram a “uma certa direção irracional”. “Eles são minoria, mas o problema é que a minoria controla a política”, acrescenta. Eles pedem um acordo que devolva os reféns em uma só fase e acabe com a guerra.
Na carta, o CIS afirma que o Exército israelense “cumpriu há muito tempo os dois objetivos que poderiam ser alcançados pela força: desmantelar as formações militares e o governo do Hamas”. “O terceiro, e o mais importante, só pode ser alcançado com um acordo: trazer todos os reféns para casa”, dizem.
Na carta, os ex-funcionários dos serviços de Segurança consideram que o Hamas já não representa uma ameaça estratégica para Israel.
“Nossa experiência nos indica que Israel dispõe de tudo que é necessário para administrar suas capacidades residuais de terror, à distância ou de outra forma”, dizem os signatários. “Perseguir os últimos dirigentes do Hamas pode ser feito mais tarde, mas os reféns não podem esperar.”
A carta enfatiza que o objetivo neste momento é “acabar com a guerra, trazer os reféns, interromper o sofrimento e formar uma coalizão regional-internacional que ajude a Autoridade Palestina (uma vez reformada) a oferecer aos habitantes de Gaza e a todos os palestinos uma alternativa ao Hamas e à sua ideologia perversa”.