Melhem vem fazendo o que está ao seu alcance – e muita coisa está ao alcance de um homem poderoso – para interromper o andamento do caso. Já moveu processos contra a principal vítima, contra a revista Piauí, contra a promotora que conduziu o caso e até contra a advogada das vítimas. Perdeu todos.

Em paralelo, lançou um canal no YouTube com vídeos que atacavam as mulheres que o denunciaram, o que levou o Ministério Público de São Paulo a denunciá-lo por violência psicológica e perseguição. Um estudo da UFRJ identificou indícios de que ele utilizou bots e redes organizadas para disseminar ataques e descredibilizar as vítimas nas redes sociais. Uma tática recorrente na defesa de homens acusados desse tipo de crime: desmoralizar as mulheres que acusam.

Enquanto jura que não tem medo da Justiça, o réu recorre ao Judiciário para impedir que o caso chegue à etapa do julgamento. Não tem medo? Me parece que tem muito.

Será que, mais uma vez, a justiça vai tirar das denunciantes o direito de se manifestarem em juízo? Será que, como cantam as feministas chilenas, o estado opressor fará de novo o papel do macho estuprador? Diante de tantos testemunhos e indícios não seria apenas justo que o caso chegasse à etapa da audiência de instrução e julgamento, todos diante de um juiz, acusação e defesa se manifestando olhos nos olhos em rito democrático?

Depois de quase quatro anos desde que vieram a público as denúncias de assédio sexual contra Marcius Melhem, o caso pode ser encerrado sem sequer chegar a julgamento. Seria uma derrota imensa para a luta feminista, e uma vitória imensa para todos aqueles que preferem que as coisas sigam como elas sempre foram: com homens socando livremente as nossas caras em elevadores, nos escritórios, nas ruas e nos processos penais.





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