Mesmo que as personagens não estejam com a terapia em dia e a violência seja a única salvação, nem todos os filmes de Darren Aronofsky precisam ser sombrios.

Ao menos é o que o diretor quer provar com “Ladrões”, adaptação de um romance de Charlie Huston que chega aos cinemas no próximo dia 28.

“Esse filme surgiu do objetivo de fazer algo muito divertido. Eu queria que as pessoas pudessem esquecer dos seus problemas por duas horas”, disse Aronofsky durante uma masterclass para estudantes no México, transmitida nesta segunda (11), ao vivo para convidados em cinemas de toda a América Latina.

Entre falhas de áudio e desencontros entre o inglês e o espanhol, o cineasta de títulos como “A Baleia” e “Mãe!” ——dois filmes que trabalham atmosferas de mal-estar para tratar de família nucleares tentou fazer do evento outra pílula de diversão.

Ele convidou as plateias ao redor do mundo a enviarem perguntas pelo Instagram e reforçou, repetidas vezes, o compromisso do projeto com a energia dos filmes de assalto.

Mas a tentativa de se provar descolado e conquistar os jovens saiu pela culatra, e as risadas surgiram pelos motivos errados.

Do desdém por certas perguntas —ele questionou, em alguns casos, o conhecimento em relação a outras de suas produções— à preocupação do diretor com possíveis vazamentos —Aronofsky demonstrou, em vários momentos, não saber que o novo filme havia sido exibido em outros países—, o clima era de tensão.

Se no filme a adrenalina se mantém pelas perseguições e a desconfiança constante, na sala do JK Iguatemi, em São Paulo, os nervos à flor da pele tentavam antecipar as próximas grosserias do cineasta.

Por outro lado, a indisposição de Aronofsky cedeu algum espaço para demonstrações de carinho — e uma brincadeira que pareceu não funcionar com um dos alunos, ao qual se referiu pelo nome do ator chileno Pedro Pascal.

“Lembro de quando gravamos as últimas cenas aqui [no México]. Me senti tão à vontade que decidi filmá-las descalço. Eu devo ter perdido alguns planos, mas o mar estava logo ali e a experiência foi ótima”, afirmou.

Em “Ladrões”, um ex-jogador de beisebol tem os sonhos de vida roubados por um acidente e leva os dias atrás do balcão de um bar. Ele evita beber com os clientes e vê na namorada o único caminho para uma vida melhor. Tudo muda quando os russos que perturbam o seu vizinho resolvem adicioná-lo à lista negra.

Entre criminosos internacionais e uma dupla de rabinos assassinos, a produção abusa de seu protagonista mas tenta divertir o público com tiroteios e o ronco dos motores sobre o asfalto. É possivelmente o longa mais destoante de sua filmografia, fácil de se confundir, por exemplo, com os lançamentos de Guy Ritchie.

Questionado sobre a sua definição de “diversão”, Aronofsky diz tentar que todos os seus filmes entretenham o público, embora reconheça a densidade dos temas que costumam estar por trás deles.

“Acho que existe um tipo de diversão nos meus filmes que agrada, talvez, só aos mais esquisitos”, afirma o diretor de títulos como “Cisne Negro”. O suspense psicológico acompanha uma bailarina que se prova capaz de qualquer coisa para chamar a atenção.

Ele coloca filmes, como o seu projeto de estreia, o misterioso “Pi”, e o drama sobre vícios “Réquiem para um Sonho” entre os títulos que acredita terem conquistado o público. “Talvez eles tenham sido mais divertidos de filmar para mim do que para qualquer outro membro da equipe.”

Ainda que se convença de que a habilidade de cativar os espectadores sempre esteve em sua carreira, talvez a debandada de convidados constrangidos – antes do final da transmissão ao vivo —e os risos nervosos comprovem os incômodos como a verdadeira especialidade de Aronofsky.



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