Um grupo de 212 indígenas vai receber nesta sexta-feira (1º) seu diploma de professor, em um evento inédito no país. Ao todo, 12 das 13 etnias de Alagoas estarão representadas na cerimônia.

A colação de grau coletiva do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Uneal (Universidade Estadual de Alagoas) terá estudantes de licenciaturas de letras, história, matemática, pedagogia e geografia.

Conforme a universidade, essa será a primeira vez no Brasil em que tantos indígenas se formam em uma universidade pública. O evento será no Centro de Convenções, em Maceió, a partir das 11h.

A formação foi iniciada em 2019 com 280 alunos. O projeto sofreu uma série de alterações em 2021, em meio a pandemia, para se adaptar a nova realidade, com aulas remotas, por exemplo.

“Ainda assim, tivemos de conviver com o difícil acesso à internet nas aldeias. Foi preciso organizar os cursos por municípios aos quais as aldeias pertencem. A universidade se deslocava para as aldeias aos finais de semana, já que as aulas aconteciam aos sábados e aos domingos”, explicou a coordenadora do curso, Iraci Nobre da Silva.

O projeto teve como base o modo de vida das etnias, respeitando as línguas e culturas originárias. Na colação de grau, por exemplo, haverá cantos, rituais e o uso de adornos tradicionais.

Para a estudante Letícia Alves Valentim, 28, a colação de grau será a realização de um sonho coletivo, fruto de muita luta e resistência.

“Eu não cheguei até aqui sozinha, caminhei com o apoio do meu povo, com os ensinamentos dos mais velhos e com a força da minha ancestralidade. É um momento de orgulho, mas também de responsabilidade, porque agora carrego comigo o compromisso de retribuir tudo que aprendi”, disse ela, que é da etnia katokinn, na cidade de Pariconha.

Segundo Valentim, sua etnia tem cerca de 350 famílias e o território não é demarcado, sendo cercado pela cidade. “Mas continuamos firmes na luta pela nossa identidade, pelo nosso espaço e pelo reconhecimento dos nossos direitos”, afirmou ela, que se formou em pedagogia.

Outro dos formados, Antônio Correia Militão, 42, classificou como histórico. Ele é da etnia kariri-xocó, que tem cerca de 2.600 integrantes e que vive principalmente do artesanato e da pesca. A aldeia fica na cidade de Porto Real do Colégio.

Antônio optou por estudar matemática no curso. “Eu tinha uma visão da cultura indígena e da matemática, então pensei num trabalho que unisse ambas, como a confecção de cerâmicas e a dança do toré”, afirmou.

A xucuru-kariri Itawanã Ferreira da Silva, 25, também decidiu fazer licenciatura em matemática. Sua aldeia está localizada em Palmeira dos Índios.

De acordo com ela, a formação vai permitir que ela dê aulas fora da comunidade. Diferente dos outros dois alunos, ela já tinha uma formação anterior, em pedagogia.

“A fonte de renda da nossa aldeia é justamente a nossa educação. Agora, temos uma escola bem estruturada, todos somos empregados. Quem estudou foi justamente a geração mais nova, que tem de 20 anos para cá.”

Danielle Maria Moacir Dos Santos, 39, da etnia karapotó terra nova, em São Sebastião, salientou a capacidade de transformação do curso. Ela se formou em letras. São cerca de 300 famílias na aldeia.

“Através das rodas de conversas com nossos anciães, Cacique Nena e Pajé Ercílio, foi se fortalecendo cada dia mais o nosso aprendizado durante todo esse tempo”, afirmou.

  • Wassu-cocal
  • Xucuru-kariri
  • Tingui-botó
  • Karapotó plaki-ô
  • Karapotó terra nova
  • Aconã
  • Kariri-xocó
  • Jiripankó
  • Katokinn
  • Karuazu
  • Kalankó
  • Koiupanká



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