
Quando pensamos em robótica, muitas vezes pensamos em coisas muito complexas, como tecnologia de ponta, cálculos dificílimos e robôs com jeito de seres humanos –aqueles que auxiliam em tarefas domésticas, no melhor estilo do desenho “Os Jetsons”.
Mas basta um mergulho um pouco mais profundo no universo dos concursos de robótica para ver outras dimensões, e a primeira que chama a atenção é a força do trabalho em equipe.
“É bonito assistir às crianças e aos adolescentes sonhando e desejando juntos. É tudo feito e desenvolvido no coletivo, não cabe a vontade individual ali”, diz Amanda Cristina Maciel Pellini, inventora e professora de invenções da escola Vera Cruz, em São Paulo.
Essa é uma característica bastante clara também para os estudantes. Aos 16 anos, Caio Gimene Bazigue, do segundo ano do ensino médio da Escola Sesi de Jundiaí, fala que participar desses torneios é sobre amizade e cooperação entre os times. “As pessoas por trás dos robôs têm paixão por aquilo que fazem e desejo de impactar o mundo com seus conhecimentos.”
Hoje no Brasil, são muitos os concursos, maratonas e olimpíadas de robótica. A maioria acontece em fases, regional, estadual e nacional, e trabalha a chamada educação Steam, que se baseia em cinco pilares fundamentais: ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática.
“A arte é uma novidade muito acertada na nossa área, porque você transforma o processo, explora a criatividade, a crítica e a comunicação”, diz Amanda. O que todos têm em comum é o objetivo de incentivar o interesse pela tecnologia dos estudantes do país e também de encontrar soluções inovadoras para problemas da sociedade.
Com mais de dez concursos no currículo, tanto no Brasil quanto fora, Caio já percebeu que sua dedicação pode ter um impacto real -o que torna tudo ainda mais especial. “Desde que comecei na robótica percebi que desenvolvi não só projetos de tecnologia, mas projetos sociais que beneficiam todo o mundo, inclusive à minha volta, como, por exemplo, na minha comunidade com oficinas para crianças com deficiência.”
A estudante Helena Gomes Rosa, 14 anos, do nono ano da Escola Sesi de Batatais, é outra que vê o lado humano desses concursos. “Participar é ter a sensação de pertencer a algo que muda a nossa vida —seja na forma como olhamos o mundo, como conversamos, como pensamos ou até mesmo no que queremos para o nosso futuro.”
A jovem representou o Sesi na RoboCup Junior Super-Regional Américas, nos Estados Unidos, justamente na modalidade artística, que desafia os competidores a criarem performances com robôs, envolvendo teatro, dança, música e uma boa pitada de criatividade.
“Nosso projeto foi a união do canto e da dança, trazendo de volta a nostalgia da infância e permitindo que as pessoas sentissem isso durante a nossa apresentação. Queríamos mostrar algo que fizesse sentido para nós, que tivesse a nossa identidade com aquele toque de magia, felicidade e conforto.”
Esse olhar mais humanizado parece estar trazendo mais meninas para a robótica -coisa que Amanda, a professora, festeja.
“Na minha época [ela tem 43 anos], não tinha muito espaço para a mulher. Hoje as meninas estão chegando, mesmo que ainda não o suficiente”, diz ela, que sempre encarou a prática de robótica como uma prática de autoestima.
É o caso de Hyvinin do Prado, 17 anos, do segundo ano do ensino médio e integrante da Equipe Biotech, da Escola Sesi de Barra Bonita, que entrou para a robótica aos 12 anos e vibra com cada aprendizado. Este ano, a aluna participou do Mundial da RoboCup, que aconteceu em Salvador, e pôde trocar com jovens do mundo todo. “Lá observamos um robô mais inovador que o outro, e voltamos cheios de ideias.”
Enquanto Amanda acha o clima certas vezes pesado para crianças menores, o estudante João Victor Nunes, 15 anos, vê o lado bom da disputa.
“Participar de campeonatos de robótica te torna não somente um profissional melhor, mas também uma pessoa mais capacitada”, diz ele, que está no primeiro ano do ensino médio da Escola Sesi de Jundiaí e já participou de três torneios internacionais, sendo campeão mundial do maior campeonato de robótica do planeta, em Houston.
Para ele e os demais, o que importa é se divertir, trocar, trazer reconhecimento para a escola e ainda sonhar com o futuro. Enquanto a maioria desses alunos vê seus próximos passos em cursos de engenharia, Amanda faz um apelo: “As competições são importantes, mas precisamos de mais incentivo de outros setores da sociedade, que precisam olhar a tecnologia como uma grande aliada”.