
Esta coluna era para ser sobre outra coisa.
Queria falar de boteco, de cerveja, de frango frito, sei lá, que qualquer coisa que não fosse o tema onipresente nos textos sobre comida às vésperas do segundo domingo de maio. Já tem gente suficiente escrevendo sobre o Dia dos Pais.
Só que nem sempre o assunto –paternidade– se apresenta como opção. Enquanto eu torrava os neurônios tentando conceber um texto, recebi uma mensagem da ex-mulher: nosso filho estava doente e não iria à escola.
Nada grave, só resfriado. Combinamos que ele ficaria comigo para que ela pudesse ir a um compromisso na hora do almoço.
Eu precisei mudar de planos, cozinhar para o combalido rebento. Coisa que faço com o maior prazer. E, no fim das contas, consegui um tema para escrever –não vou falar de Dia dos Pais, embora pareça muito que eu já esteja falando.
Comida de doente é, por tradição e inércia, sopa.
Sucede que o adolescente em questão resolveu que não gosta mais de sopa. Em outra situação, eu mandaria um “é o que tem, se quiser come, se não quiser fica com fome”.
Decidi driblar o capricho do infante enfermo. Ofereci-lhe, com sucesso, uma canja seca. Tecnicamente, um risoto de frango com legumes.
Enquanto cozinhava, pus-me a matutar: se apenas alguns decilitros de água separam uma coisa da outra, por que tomamos a sopa com colher e comemos o risoto com garfo?
Das normas sem sentido da etiqueta à mesa, essa é uma que me irrita profundamente. Por que raios não podemos comer com colher o que quisermos, quando e onde bem entendermos?
Porque, segundo os “bons modos”, quem come com colher são as crianças, os velhos, os inválidos e aqueles que não tiveram educação adequada.
A etiqueta dos talheres, no frigir dos ovos, é uma exibição de destreza motora adquirida (e ainda não perdida) em anos de condicionamento para se portar como um dos seus. Um indicativo de classe social.
Comer com colher, coisa que todos fazem na solidão do lar, é libertar-se dessa bobajada.
Arroz com feijão, picadinho, massas curtas, pirão, farofa e, claro, risoto: tudo o que venha em pedaços suficientemente pequenos fica melhor numa tigela ou prato fundo, para enfiarmos a colher sem constrangimento nem culpa.
Um dia o mundo aprenderá.
CANJA SECA
Rendimento: 2 porções
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 40 a 50 minutos
Ingredientes
1 filé de sobrecoxa de frango
2 colheres (sopa) de azeite
2 dentes de alho
1 folha de louro
1 cebola pequena
100 g de arroz arbóreo (ou outro para risoto)
500 ml de caldo de frango
½ cenoura
½ batata
1 colher (chá) de extrato de tomate
Manjerona fresca a gosto
1 tomate maduro
2 colheres (sopa) de queijo ralado
Sal a gosto
Modo de fazer
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Doure o frango no azeite. Reserve. Pique alho, cebola, batata e cenoura. Reserve.
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Na mesma panela, refogue o alho em fogo médio com o louro e, em seguida, a cebola.
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Junte o arroz e deixe tostar levemente, mexendo com uma colher de pau ou silicone.
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Acrescente um pouco de caldo e espere ferver. Adicione a batata, a cenoura, o extrato de tomate, a manjerona e um pouco de sal.
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Despeje o caldo aos poucos, mexendo frequentemente, até o arroz absorver o líquido. Repita este processo até que o arroz esteja cozido, porém firme, com quase nenhum caldo.
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Desligue o fogo. Junte o tomate picado e o queijo ralado. Mexa bem. Ajuste o sal. Sirva quente.
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