
O atual ciclo de promoções do Exército marca a chegada ao generalato dos colegas de turma da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A ascensão dos novos generais coincide com o momento em que o nome do governador começa aparecer com maior frequência como presidenciável, num cenário de sucessão de Jair Bolsonaro (PL) na liderança da direita em 2026.
Publicamente, Tarcísio nega essa possibilidade, mas é visto por parte do mundo político como o nome mais viável.
A cerimônia de entrega das espadas aos novos oficiais-generais ocorre nesta quinta-feira (7), em Brasília. É um evento interno de tradição centenária, no qual os militares promovidos confirmam sua promoção e confraternizam com colegas e familiares.
Tarcísio decidiu prestigiar os antigos colegas e vai participar da solenidade. É incomum a presença de autoridades na entrega das espadas, normalmente restrito para famílias e integrantes do Exército. São convidados os comandantes das três Forças Armadas e o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro.
Tarcísio entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em 1992. Fez parte da Turma Bicentenário da Inconfidência Mineira —a maior formada até aquele momento.
Ele se formou na Aman em 1996 e seguiu na carreira militar por mais 12 anos, quando decidiu abandonar a farda para entrar no funcionalismo público. A camaradagem dos tempos de Exército, porém, seguiu nos grupos de WhatsApp e nos encontros periódicos organizados informalmente pelos antigos colegas.
No Exército, o governador se formou pelo IME (Instituto Militar de Engenharia) em 2002 e chefiou a seção técnica do tema. Ele ainda atuou na missão das Nações Unidas no Haiti, entre 2005 e 2006. Quando deixou a caserna, era capitão.
Apesar de ter saído das Forças Armadas há quase 20 anos, mantém vínculo forte com os militares. O controlador-geral do estado de São Paulo, Wagner Rosário, também foi colega da Aman e de Esplanada, no governo Bolsonaro.
O governador não fez parte do núcleo militar na gestão passada, e tampouco é investigado no inquérito que apura a trama golpista, no STF (Supremo Tribunal Federal).
Tarcísio vai aproveitar a agenda em Brasília para se encontrar com outros governadores de direita. Ele havia ainda marcado um almoço com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os planos mudaram após a prisão domiciliar decretada por Alexandre de Moraes.
O governador pediu para fazer uma visita a seu padrinho político —a autorização, até a noite desta quarta, não havia sido concedida.
Tarcísio sempre aproveita suas idas a Brasília para se encontrar com Bolsonaro. Interlocutores defenderam o encontro como uma forma de prestar solidariedade, apoio e receber orientações do ex-presidente.
Se autorizada, a visita ocorrerá em boa hora, em especial após Tarcísio ser alvo de críticas do bolsonarismo por ter faltado à manifestação na Avenida Paulista no último domingo e sequer ter feito alguma declaração sobre o movimento.
O gesto foi mal interpretado por aliados de Bolsonaro, criticado em discurso no carro de som pelo pastor Silas Malafaia e alvo de indiretas dos filhos do ex-presidente, Eduardo (PL-SP) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
À Folha, o senador classificou a ausência de governadores de direita como um “erro estratégico gigante”. Ele afirmou que esse é o momento em que vê quem está disposto a “resgatar a nossa democracia junto com a gente”.
No Exército, são quatro janelas de promoção para os militares da turma de Tarcísio chegarem ao generalato. É o principal funil da carreira —a maioria dos colegas não será promovida e vai passar à reserva como coronel.
A primeira leva promoveu 16 generais-de-brigada, o primeiro de três patamares dentro do generalato. Eles só devem concorrer à quarta estrela, o topo da carreira, daqui a oito anos.
O Exército teve papel importante na consolidação da candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro de 2014 a 2018. O capitão reformado deixou o Exército durante conflito com a cúpula da Força, fez de militares de baixa patente seu cabo eleitoral e conseguiu se reaproximar dos generais após fazer defesa das Forças Armadas no Congresso Nacional.
A ascensão de um movimento conservador de direita teve o general Eduardo Villas Bôas como um dos expoentes no Exército. O ex-comandante foi também um dos responsáveis pela politização das Forças Armadas —autor do tuíte que pressionou o Supremo às vésperas do julgamento de um habeas corpus impetrado por Lula.
A atuação política do Exército e de seus integrantes, que ajudaram na eleição de Bolsonaro, foi asfixiada pelo atual comandante Tomás Paiva. O general distanciou a Força das discussões políticas travadas em Brasília e reforçou que o papel dos militares é intramuros.
A expectativa é que a boa relação de Tarcísio com a futura cúpula do Exército não seja determinante para sua possível candidatura à Presidência da República como foi com Bolsonaro.