
Das praias de Copacabana, no Brasil, aos bares de neon de Xangai, na China, a maior cervejaria do mundo, a AB InBev, precisa convencer os consumidores a pedir mais cervejas Budweiser e Coronas.
As ações da empresa caíram 11,5% na quinta-feira (31), a maior queda diária desde 2020, depois que os volumes do segundo trimestre não atingiram as estimativas, arrastados por quedas acentuadas no Brasil —um mercado importante— e na China, a segunda maior economia do mundo.
As ações da rival Heineken caíram mais de 8% na segunda-feira (28), depois que ela alertou que os volumes seriam mais baixos do que o esperado para o restante do ano e optou por não aumentar sua estimativa de lucro anual, citando a volatilidade, inclusive das tarifas comerciais dos Estados Unidos.
Em meio aos desafios mais amplos enfrentados pelo setor de bebidas alcoólicas, as preocupações com o crescimento e os volumes das duas principais cervejarias ofuscaram outros aspectos de seu desempenho, incluindo a forte geração de lucros, disseram investidores e analistas.
“O volume não estava onde gostaríamos que estivesse”, comentou o presidente-executivo da AB InBev, Michel Doukeris, aos investidores na quinta-feira, ressaltando, no entanto, que outros indicadores de desempenho, como lucro e receita, estavam crescendo de forma consistente.
Ele disse que o mau tempo provocou a queda no Brasil e que a empresa estava preparando seus negócios para crescer no segundo semestre.
Na China, onde o portfólio de cervejas caras da AB InBev tem sofrido com os rivais, a empresa estava buscando aumentar as vendas para consumo doméstico em vez de bares e restaurantes.
O consumo em locais fechados, o foco da AB InBev na China até agora, sofreu em meio a uma economia lenta e às novas regras do governo que proíbem os funcionários públicos de jantar fora em grandes grupos.
No entanto, isso não foi suficiente para evitar que os investidores perdessem a paciência em relação ao crescimento do volume —uma parte fundamental do argumento de investimento para as cervejarias, que têm tido dificuldades para cumprir nos últimos anos.
Os fabricantes de cerveja esperavam restaurar os volumes em 2024, depois que os aumentos de preços levaram a quedas prolongadas nas vendas de cerveja. Mas seus planos foram interrompidos pelo mau tempo e pela inflação. Agora eles parecem correr o risco de estagnar novamente em 2025, com as tarifas comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump, em foco.
JOGO DE VOLUME
Siphelele Mdudu, analista de investimentos da Matrix Fund Managers, que investe em ações de cervejarias, afirmou que não é suficiente gerar crescimento apenas com base em aumentos de preços.
“Eventualmente, você levará seus consumidores a produtos alternativos”, analisou Mdudu, acrescentando que a cerveja é fundamentalmente um “jogo de volume”.
Mdudu e Daniel Isaacs, analista de ações da 36ONE, acionista da AB InBev, disseram que um fator-chave no declínio da AB InBev no Brasil foi o preço: A AB InBev aumentou os preços antes da rival Heineken, que se beneficiou com isso.
Doukeris disse que o mercado estava agora se ajustando às mudanças de preço.
A Heineken também sofreu na Europa como resultado de negociações de preços prolongadas e tensas com os varejistas. Ela também alertou que a incerteza tarifária estava pesando sobre os consumidores nas Américas e poderia afetar o crescimento do volume.
Trevor Stirling, analista da Bernstein, observou que as cervejarias ainda estão tendo um bom desempenho em alguns mercados onde as ameaças de impostos dos EUA são grandes, como o México.
Mas se as cervejarias quiserem evitar reações semelhantes no preço das ações daqui para frente, elas precisarão encontrar maneiras de tranquilizar os investidores de que podem cumprir os volumes.
“Se você tem preocupações sobre a solidez da história do crescimento do volume, tende a reagir de forma exagerada”, disse Stirling.