
O Banco do Brasil traçou uma política de recuperação para o restante de 2025. Depois de reportar uma queda de 60% no lucro, para R$ 3,8 bilhões, na quinta-feira (14), a diretoria da estatal detalhou ao mercado financeiro mudanças na estratégia para retomar a rentabilidade.
Uma das maiores mudanças está na atuação junto aos 808 clientes do agronegócio que entraram em recuperação judicial, derrubando o resultado do BB. A instituição disse estar mais proativa na recuperação desses créditos, inclusive, recorrendo à Justiça.
“Então, em 2025, estamos focados na recuperação, no ajuste do resultado do banco, dado o cenário do agravamento de inadimplência, principalmente no rural “, disse Marco Geovanne Tobias da Silva, vice-presidente de gestão financeira da estatal, em entrevista a jornalistas nesta sexta (15).
O banco é responsável pela metade do financiamento do agronegócio brasileiro, o que o torna mais vulnerável à baixas do setor. A atual inadimplência decorre da seca de 2023 e das enchentes no Sul em 2024.
Ao todo, são 20 mil clientes do setor com contas em atraso há mais de 90 dias, de um total de um milhão. Dentre os devedores, 74% são clientes que nunca apresentaram inadimplência com o banco até 2023.
A maioria dos produtores que entraram em RJ são grandes produtores rurais na pessoa física, atendidos pelo braço de private banking da instituição.
“Eu tenho aqui o cliente de RJ que de fato a recuperação judicial é o caminho para ele, para proteger os credores dele, mas eu tenho uma parcela significativa de clientes em RJ que foram fruto de má orientação de escritórios de advocacia. Mas é importante saber que não é uma questão sistêmica de toda carteira do agro do Banco do Brasil”, disse Tarciana Medeiros, presidente do BB.
Segundo a executiva, o banco avalia entrar com processos contra esses escritórios, que estariam fazendo propaganda em redes sociais para que os produtores não paguem suas dívidas e entrem com pedido de RJ.
Ela também enfatizou que o banco acionou a AGU (Advocacia-Geral da União) e CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre a advocacia predatória.
“Nós assinamos um termo de cooperação técnica com a AGU, em que a gente se compromete junto com a AGU a fazer troca de informações, combater essa litigância abusiva para que não tenhamos novos casos acontecendo adiante e para que tenhamos condições de entender o perfil dessas pessoas e de apoiá-los antes que cheguem nesse ponto”, disse Tarciana.
De acordo com a CEO, ainda há pedidos de RJ de clientes do banco, mas sem um crescimento em relação ao registrado entre o fim de 2024 e começo de 2025.
“Em Goiás, houve um pedido coletivo de 18 produtores que foi negado pela Justiça. Há um entendimento mais condizente da Justiça em relação a esse processo de orientação desses escritórios”, afirmou a presidente.
O banco também defende uma mudança na regulação 4966 do Banco Central, que também derrubou o resultado pois mudou a necessidade de provisão de perdas incorridas para perdas esperadas, aumentando a provisão em R$ 6 bilhões.
De acordo com os executivos do BB, a regra não contempla as especificidades de créditos de longo prazo, como os do agronegócios, que têm um ciclo de 36 meses.
“Eu empresto um ano, no outro ano é que eu vou saber se esse cliente vai ter condição de pagamento ou não. Se ele não teve condição e eu fizer a prorrogação, ele vai para mais um ano. Nesse período de três anos, do jeito que está a regulação hoje, eu não tenho de juros para o banco. É como se ela não estivesse dando resultado, mas ela está. Ela está na nossa carteira, ela está dando resultado para o banco”, disse Tarciana.
A nova rota acalmou o mercado financeiro e as ações do BB operam em alta de 1%, às 13h26, após forte queda nos últimos dias.
Com a piora no balanço, o banco reduziu a política de distribuição de lucro a acionistas (chamado de payout) de 45% a 40% para 30%. Segundo o diretor financeiro do banco, esta mudança visa dar maior flexibilidade de capital ao banco e pode ser acompanhada de dividendos extraordinários em 2026, caso o banco se recupere.
Essa é a expectativa do banco, dada a previsão de safra recorde.
Com relação ao tarifaço de Donald Trump, o banco disse que o impacto é pequeno, envolvendo 0,2% a 03% da carteira de crédito total, o que corresponde a R$ 3 bilhões.
“Ontem, foi lançado o programa Brasil Soberano. Estaremos distribuindo os recursos do programa e apoiando as empresas afetadas. Continuamos apoiando as empresas para que elas se mantenham perenes e sustentáveis, mantendo empregos”, afirmou Tarciana.
Outra mudança na estratégia é um maior foco em concessão de crédito para pessoa física, onde a margem é maior.
Apesar da piora no resultado, Tarciana não se diz pressionada pelo cargo. “O presidente [Lula] não tem demonstrado nenhuma intenção de alterações no BB. Não conversamos sobre esse assunto. A pressão que eu sinto é interna, sobre a entrega de resultado.”
A executiva também afirmou não se abalar com ataques homofóbicos nas redes sociais após a queda no lucro do banco.
“[Homofobia nas redes] não me afeta. Passei isso a vida inteira e sempre foi um combustível”, disse a CEO.
RAIO-X | BANCO DO BRASIL NO 2º TRI DE 2025
Fundação: 1808
Lucro: R$ 3,8 bilhões
Agências: 3.997
Funcionários: 85.959
Principais concorrentes: Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Nubank e Caixa Econômica Federal