
Em 30 de abril de 2018, publiquei nesta Folha uma coluna chamada “Bolsonaro vai quebrar o agronegócio?“. Meu medo era que Jair fizesse alguma estupidez que fechasse o mercado chinês para nossas commodities.
Atirei no que vi e acertei no que não vi: Bolsonaro está criando problemas terríveis para nosso agronegócio, fez uma imensa estupidez, mas o mercado que ele nos fechou acabou sendo o americano.
Grande parte de nossos produtos agrícolas sofrerá a taxação de 50% imposta por Trump e Bolsonaro contra o Brasil. O governo brasileiro ainda briga para que isso mude. Mas Alckmin negocia sob sabotagem declarada do deputado Eduardo Bolsonaro e do neto burro do Figueiredo.
Eduardo parece desorientado. Em um vídeo recente, pareceu trocar o nome de sua esposa (chamou Heloísa de Adriana). Até aí, não é problema meu. O chato é que o filho do Jair também parece confuso sobre qual o nome do seu país.
Como todo político que continua sendo bolsonarista, Eduardo Bolsonaro é um traidor da pátria, um Silvério dos Reis. Em outro vídeo recente, declarou que “trabalhava” para que as autoridades brasileiras não fossem recebidas pelas autoridades americanas para negociar um acordo melhor para o Brasil.
A sorte é que essa foi a primeira vez que Eduardo trabalhou na vida. Depois de anos como filho encostado de político, a falta de prática pesou: Geraldo Alckmin e o Itamaraty conseguiram negociar exceções ao tarifaço. Cerca de 43% de nossas exportações ficaram de fora, incluindo setores críticos como aviação, petróleo e laranja.
De qualquer forma, se Lula não conseguir mais concessões, o café de Minas Gerais pagará mais tarifas graças ao bolsonarista Romeu Zema; o aço de Volta Redonda pagará mais imposto graças ao bolsonarista Cláudio Castro; a carne de Goiás pagará mais imposto graças ao bolsonarista Ronaldo Caiado; São Paulo, governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas, deve ser o estado mais afetado pela Tarifa Bolsonaro.
O agronegócio tem opções para agir enquanto Lula negocia. Pode, por exemplo, contestar as tarifas na Justiça americana. Elas são flagrantemente contrárias às leis dos Estados Unidos. Foram decretadas usando um instrumento legal que só poderia ser usado em caso de ameaça à segurança nacional. Se até o Jair fora da cadeia ameaça a segurança americana, os filmes do Rambo mentiram para mim.
A propósito, a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes também é completamente contrária à legislação americana. Se os tribunais americanos funcionarem, o Brasil deve derrubar tanto as tarifas quanto a sanção a Moraes com facilidade. Mas as cortes americanas ainda funcionam? Os Estados Unidos ainda são um Estado de Direito? Finalmente, o agronegócio tem controle sobre uma variável importante: a sobrevivência política do bolsonarismo, a quinta coluna de Trump.
Se o agronegócio não quer pagar a Tarifa Bolsonaro de 50%, precisa abandonar quem luta para que essa tarifa suba, quem serve de álibi na guerra comercial promovida pelos americanos. Vão continuar financiando o movimento que implementou o tarifaço contra eles? As regras ambientais de Marina Silva já lhes custaram metade do que custou a tarifa dos bolsonaristas que a xingam no Congresso?
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