A inovação obviamente tem dois lados: a inovação e a adoção. Pessoas diferentes precisam dar os dois passos, ou a inovação não se estabelece. É um exemplo da produtividade da cooperação humana para obter vantagem, em vez da competição para obter vantagem.

Veja uma das inovações realmente importantes, o valor posicional dos números. Ele foi inventado apenas duas vezes na história da humanidade. Por volta de 500 d.C., os antigos habitantes do Império Gupta, no sul da Ásia, que usavam, assim como nós, uma base decimal para falar de números, começaram a escrever o número trezentos e sessenta e cinco como 5 na casa das unidades, na extrema direita, 6 na casa das dezenas, uma casa à esquerda das unidades, e 3 na casa das centenas, à esquerda das dezenas. Ou seja, 365. Por volta de 800 d.C., os árabes inteligentes da Era de Ouro muçulmana adotaram o sistema indiano. E então, por volta do ano 1200 d.C., os simplórios da Europa na Alta Idade Média começaram a adotá-lo. Primeiro os italianos e, lentamente, os outros. Só se tornou um hábito das pessoas comuns na Inglaterra por volta de 1600 d.C.

A única outra vez que foi inventado foi pelos maias, na América Central, cerca de mil anos antes dos indianos. Os maias contavam de 20 em 20, usando também os dedos dos pés, acredito, em vez de 10 em 10. Então, cada casa era um múltiplo de 20, lido da direita para a esquerda, uma contagem de unidades de 20, como a contagem de 10 em nossos números; depois 20 x 20 na segunda casa à esquerda, a dos 240; depois, 20 x 20 x 20 na casa dos 4.800, e assim por diante. Você pode ver por que os maias eram brilhantes com números muito grandes, como o chamado calendário de “contagem longa” em seu registro dos anos. Durante algum tempo, os maias apenas deixaram um espaço em branco para o zero, mas logo inovaram e adotaram um símbolo para ele também —como fazemos para 1.020, por exemplo.

Um guatemalteco instruído, não maia, disse-me certa vez: “O que há de tão incrível nos maias terem inventado o valor posicional? É apenas inventar o zero, que é nada!” É essa a profundidade do preconceito europeu contra os povos originários, as Primeiras Nações. A inovação do valor posicional é ótima porque não podemos sequer fazer somas facilmente com, digamos, algarismos romanos, o tipo de simbolização numérica que a maioria das civilizações usou, até mesmo as mais inteligentes, como a grega e a chinesa. Tente somar CXXI e CCXLIV sem usar a notação de valor posicional, ou sem um ábaco que a simule.

Mas é preciso haver uma dupla para dançar tango, como os argentinos e os finlandeses sabem muito bem. Algum gênio, o empreendedor, propõe o valor posicional. Mas se a sociedade que o cerca não se dispuser a adotá-lo ele não se espalhará. Quem sabe algum romano mudo e inglório tenha proposto o valor posicional, mas os ciganos conservadores não o adotaram.

Em outras palavras, vocês, consumidores comuns, são cruciais para a inovação. Em 1881, quando Marshall Field abriu sua loja de departamentos em Chicago, a inovação foi: “Dê à mulher o que ela quer” —por exemplo, a garantia de devolução do dinheiro. Se a mulher não o quisesse, o modelo não teria se difundido.

Portanto, o foco exclusivo da retórica conservadora no empreendedor, seguindo Max Weber em 1905, é um grande erro. E o planejamento central também está ignorando, no tango dos mercados, o conhecimento local da mulher sobre o que ela quer.


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