
Os grandes torneios sobre quadra sintética começaram com duas novidades importantes para o tênis. Victoria Mboko, 18 anos, marcou uma série de surpresas e atuações de primeira linha para ganhar seu primeiro troféu de WTA logo de nível 1000, enquanto Ben Shelton aproveitou os desfalques e os buracos na chave masculina para colocar seu nome na galeria dos campeões de Masters e se candidatar à luta pelo topo do ranking.
Ainda que não seja uma canadense de fato, Vicky Mboko ganhou a torcida e honrou o convite recebido. A família fugiu do efervescente clima bélico do Congo para os EUA e se mudou para o Canadá quando a filha tinha apenas dois meses, fixando-se em Ontario. Foi o pai quem levou as quatro filhas à quadra.
Sempre atenta, a federação canadense logo percebeu seu potencial e a incluiu no notável programa de treinamento em Montréal. de onde saíram também nomes como Bianca Andreescu, Félix Aliassime e Denis Shapovalov.
A notável campanha de Mboko em Montréal incluiu triunfos sobre quatro campeãs de Slam, mesmo que Sofia Kenin tenha perdido o brilho há algum tempo. Foram especialmente notáveis as atuações diante de Coco Gauff e de Elena Rybakina – que chegou a sacar duas vezes para a vitória – e a tarefa assombrosa foi concluída com a virada espetacular em cima de Naomi Osaka na decisão.
O mais incrível ainda é que, sete meses atrás, Vicky abriu sua temporada jogando torneio W35 na França, então mera 337ª colocada. Ganhou três ITFs antes de receber convite para Miami e, ao furar o quali e superar duas rodadas em Roland Garros, virou top 100. Pouco depois, também se deu bem no quali de Wimbledon. Chegou a Montréal como 85ª e sairá como 25ª, ou seja, dentro dos cabeças de chave para o US Open.
A base de seu tênis é a força dos golpes de base, ou seja, a norma de quase todo o circuito feminino. O “a mais” são o bom saque e a movimentação que permite boas defesas e contragolpes. E a força mental parece estar lá, embora seja necessária uma avaliação mais adiante para sabermos realmente o quanto ela será capaz. Por enquanto, é excepcional ter um nome tão forte e jovem a despontar.
Shelton por sua vez se mostra um jogador claramente diferenciado. Tem extremo vigor físico e um comportamento por vezes quase juvenil, ainda que leve e divertido, e o potencial de seu tênis fica mais evidente a cada temporada. Exímio sacador, tira o máximo do seu forehand pesado de canhoto e melhorou muito no backhand. Gosta de jogar na rede, embora haja espaço para muita evolução, e por vezes sofre em quadra muito mais do que seria necessário pela queda repentina de intensidade.
De qualquer forma, um mês mais jovem que Jannik Sinner e um ano mais velho que Carlos Alcaraz, Shelton precisa ser levado a sério quanto à capacidade de ter um futuro mais vencedor. Sai de Toronto com uma nova marca pessoal no ranking, o sexto lugar, e não está longe de entrar no top 4, já que Jack Draper segue afastado e Taylor Fritz – a quem derrotou com sobras na campanha – tem um vice de US Open a defender.
Duas outras menções se fazem necessárias. Osaka enfim reage na carreira, embora seja perturbadora sua instabilidade emocional na reta final do jogo desta quinta-feira. Já o russo Karen Khachanov, nem tanto pela segunda final de Masters, oito anos depois de ganhar Paris-Bercy, mas principalmente porque mostrou determinação em não depender tanto da força e arriscar com mais frequência transições à rede e curtinhas. Khachanov joga o bastante para ser um top 10 e muito mais do que seus sete títulos de ATP.
Boas notícias sobre Fonseca
O carioca João Fonseca voltou a vencer. Mesmo sem ter feito atuação brilhante, superou um tenista que sabe jogar na quadra dura, o chinês Yunchaokete Bu, sabendo se recuperar de um primeiro set bem instável. O adversário sacou muito mal a partir daí e ajudou muito o brasileiro a achar o ritmo da devolução e ganhar confiança. Com isso, fez serviços quase perfeitos na série decisiva, suportando a pressão de jogar sempre atrás do placar, e achou a quebra na hora exata.
A outra boa notícia é que Fonseca agora poderá voltar à condição de franco atirador contra um adversário que vem embalado por ótimas atuações, que o levaram à final de Washington. O espanhol Alejandro Davidovich é cheio de recursos, tem golpes muito firmes da base e serviço eficiente, mas sempre abre buracos por uma cabeça que muitas vezes não se mantém firme.