Martin Niemöller foi um pastor protestante alemão que apoiou Hitler na década de 1920. Mas depois de 1933 reconheceu seu pecado, retratou-se publicamente e foi preso pelo regime. Em seus discursos de mea-culpa após a guerra, ele costumava dizer: “Primeiro eles foram atrás dos socialistas, e eu não me manifestei —porque eu não era socialista… Depois eles foram em busca dos judeus, e não me manifestei —porque eu não era judeu. Então eles vieram atrás de mim —e não havia sobrado ninguém para falar por mim”.

Donald Trump está indo atrás das mulheres trans. Não eu pessoalmente, ainda —embora, absurdamente, meu livro sobre minha transição, “Crossing: A Transgender Memoir” [Travessia: uma memória transgênero], tenha sido retirado há alguns meses da biblioteca da Academia Naval dos Estados Unidos, junto com, principalmente, qualquer coisa sobre a história negra nos EUA. Trump não quer que os marinheiros ouçam que meu país, assim como o de vocês, leitores, tem um ligeiro problema com a cor da pele.

Há evidências esmagadoras de que Trump sempre foi racista. Em 1989, por exemplo, ele perseguiu cinco jovens negros por suposto estupro, todos posteriormente inocentados e libertados da prisão. Na década de 2000, ele foi atrás do primeiro presidente negro, alegando que Barack Obama não tinha nascido nos Estados Unidos.

Mas sua perseguição às mulheres trans é novidade, adotada para agradar os cristãos conservadores de sua base eleitoral. Parece que ele sabe que ir atrás de homossexuais não é mais uma política inteligente nos EUA. Então, escolha um grupo menor de gays. Muito mais grave em seu programa do que proibir meu livrinho, foi que o Secretário da Defesa ––cuja qualificação para dirigir uma agência com 2,8 milhões de pessoas diretamente e milhões de contratados e fornecedores indiretos é ter sido uma estrela de TV na Fox News–– removeu todas as pessoas trans que serviam nas Forças Armadas. Imagine a ampla perturbação de vidas que isso causa —embora, é claro, a perseguição cada vez maior por Trump aos imigrantes ilegais, especialmente de países latinos, e a perseguição às universidades e à imprensa sejam muito mais amplas. Primeiro, eles foram atrás das mães hondurenhas que fugiam de bandos criminosos, mas eu não era uma mãe hondurenha.

No ano passado, sentei-me ao lado de um capitão aposentado de um submarino nuclear da Marinha Real britânica em um jantar encantador na Universidade de Glasgow, em homenagem ao ano de nascimento de Adam Smith. O capitão me contou que passava meses sob a calota de gelo do Ártico monitorando submarinos russos e praticando manobras para esse caso. Durante a conversa, achei apropriado, em certo momento, mencionar minha transição. Ele não ficou chocado. Disse-me, por sua vez, que seu oficial executivo também fez a transição de homem para mulher e voltou para o submarino. “Como isso funcionou?” “Tudo bem: ela é uma supermarinheira.”

Assim como, claro, muitas mulheres trans nas Forças Armadas dos EUA. Você precisa se esforçar mais para fazer bem o seu trabalho quando é membro de uma minoria impopular. Ou, aliás, de uma maioria reprimida. Charlotte Whitton tornou-se, em 1951, a primeira prefeita de Ottawa. Uma feminista canadense pioneira, ela costumava dizer: “O que quer que as mulheres façam, têm de fazer duas vezes melhor que os homens para serem consideradas meio boas. Felizmente, isso não é difícil”.

Primeiro, eles foram atrás dos comediantes insultuosos, mas eu não era uma comediante insultuosa, então não me manifestei.


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