
O governo dos Estados Unidos firmou um acordo com Ruanda para enviar ao país africano até 250 imigrantes deportados de diferentes nacionalidades, em nova medida da política de linha dura implementada pelo presidente Donald Trump no setor.
O entendimento foi assinado em junho, em Kigali, a capital ruandesa, segundo autoridades locais ouvidas pela agência de notícias Reuters. A Casa Branca e o Departamento de Estado não comentaram o acordo, e o Departamento de Segurança Interna encaminhou os questionamentos ao setor diplomático.
O envio dos deportados será feito com o aval de Ruanda, que poderá aprovar ou rejeitar cada nome. Um primeiro grupo de dez pessoas já foi indicado por Washington para triagem. Aqueles aceitos terão acesso a capacitação profissional, assistência médica e apoio com moradia, de acordo com o entendimento.
A ideia, segundo o governo ruandês, é oferecer condições para que essas pessoas se integrem à sociedade e contribuam com a economia local, uma das que mais cresceu na África nos últimos anos.
“Ruanda concordou em receber esses migrantes, em parte, porque quase todas as famílias ruandesas já viveram o drama do deslocamento forçado. E nossos valores sociais se baseiam na reintegração e na reabilitação”, afirmou Yolande Makolo, porta-voz do governo de Paul Kagame.
Os deportados não serão obrigados a permanecer no país e poderão deixar Ruanda quando quiserem. Apenas pessoas sem pendências criminais ou com penas já cumpridas serão aceitas. Segundo um funcionário mencionado pela Reuters, os EUA vão oferecer a Ruanda uma ajuda financeira, em forma de subsídio, cujo valor não foi revelado.
O acordo poderá ser estendido para além dos 250 imigrantes, caso haja consenso entre os dois países. A medida faz parte da estratégia do governo Trump de buscar nações dispostas a acolher deportados dos EUA, incluindo pessoas com histórico criminal. Em março, os EUA enviaram mais de 200 venezuelanos acusados de envolvimento com gangues a El Salvador, cujo líder, Nayib Bukele, é aliado do republicano.
O envio de migrantes a outros países é defendido por setores conservadores como uma forma de remover pessoas apontadas como ameaçadoras ou que não podem ser devolvidas a seus países de origem. Críticos, no entanto, veem a prática como desumana, já que muitos dos deportados são enviados a locais para os quais não têm vínculos, não falam o idioma e podem enfrentar situações de violência.
A legalidade desse tipo de deportação está sendo contestada na Justiça. Embora a Suprema Corte dos EUA tenha autorizado em junho a remoção de migrantes para países terceiros, o tema ainda está em disputa em um tribunal federal de Boston —e pode voltar à corte de mais alta instância no futuro.
Esta não é a primeira vez que Ruanda firma acordos semelhantes. Em 2022, o país assinou um pacto com o Reino Unido para receber milhares de solicitantes de refúgio, mas o plano foi cancelado no ano passado pelo premiê Keir Starmer, após uma série de batalhas judiciais. Nenhum imigrante chegou a ser transferido à nação africana sob aquele acordo.
O país africano, governado por Paul Kagame, tem sido elogiado por líderes ocidentais e regionais pela reconstrução após o genocídio de 1994, que deixou mais de 1 milhão de mortos. Ao mesmo tempo, grupos de direitos humanos denunciam abusos cometidos pelo governo —o que que Kigali nega.