Com o fim das férias escolares e a volta às aulas, um novo período de adaptação das crianças e adolescentes desafia pais e professores. A saúde ocular é um aspecto que demanda atenção em alguns pontos, os quais foram descritos na cartilha “Saúde Ocular na Infância”, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Alterações visuais, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, são comuns na infância, afetando de 1,44% a

18,63% das crianças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas, em cerca de 80% dos casos, elas são ou tratáveis ou preveníveis.

“O mais importante é que elas [as crianças], muitas vezes, não têm qualquer queixa. Então, precisamos ficar de olho para conseguir identificar esses problemas”, diz a oftalmologista Júlia Rossetto, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP).

Rossetto diz que, se a criança não tiver o estímulo visual correto durante a infância, seu cérebro não vai aprender a enxergar como deveria. “Mais para frente, quando ela tiver sete anos, por exemplo, ela vai ter aquele ‘olho preguiçoso’, que é a ambliopia, o que pode ser irreversível. Então, existe toda essa importância de fazer o diagnóstico correto e precoce”, diz.

Um levantamento do Instituto Ipsos feito entre junho e julho de 2024 mostrou que a maioria dos pais não consegue detectar a miopia dos filhos. 73% deles acreditam que o problema poderia ter sido detectado precocemente, mas 47% não soube definir corretamente o que é miopia. Assim, é preciso conhecer os principais fatores que podem prejudicar a visão das crianças.

Desenvolvimento visual normal e sinais de alerta

Segundo a cartilha do CBO, é importante conhecer os principais marcos visuais desde o nascimento. Eles são:

1 mês: Consegue fixar o olhar em algo por alguns segundos.

2 meses: Faz contato visual intenso e tem interesse especial pela face humana.

3 meses: Consegue acompanhar objetos com o olhar e mover os olhos rapidamente de um ponto para outro.

6 meses: Usa os dois olhos juntos, segue objetos sem dificuldade e tenta pegá-los.

9 meses: Reconhece rostos familiares e reage a expressões faciais.

Outros sinais de alerta são estrabismo (desalinhamento dos olhos) após os 4 a 6 meses, lacrimejamento constante, vermelhidão nos olhos e coceira. Se a criança não atingir os marcos esperados ou apresentar um dos sintomas, é importante procurar um oftalmologista.

Rosetto destaca alguns comportamentos que podem ajudar a identificar a miopia na criança na escola: “Aquela criança que não enxerga o quadro, que não reconhece os pais quando estão do outro lado da rua, que aproxima muito os livros, que aperta os olhos para enxergar melhor quando está de longe e que enxerga muito bem de perto, mas mal de longe”.

Uso de telas

A oftalmologista diz que o uso excessivo de telas na infância traz sérios riscos à saúde ocular: “Agora se comprovou que, quanto maior o tempo de uso de telas, maior o risco de desenvolver miopia. Também há o risco de ter a doença do olho seco, porque a gente pisca menos ao usar a tela”.

Segundo a médica, há ainda o risco de estrabismo agudo, “pelo excesso de convergência. Você pode ter um desbalanço entre os músculos e causar um estrabismo convergente, que é aquele estrabismo que os olhos ficam mais próximos do nariz”.

A cartilha recomenda que o uso de telas seja adiado o máximo possível:

Abaixo de 2 anos: nenhuma exposição às telas;

Entre 2 e 5 anos: limitar a, no máximo, 1 hora diária;

Entre 6 e 10 anos: entre 1 e 2 horas ao dia;

Entre 11 e 18 anos: até 2-3 horas diárias.

Maquiagem infantil

Crianças expostas a produtos recomendados para uso adulto enfrentam riscos devido a uma maior sensibilidade na pele e nos olhos. Cosméticos e cremes dermatológicos, por exemplo, podem causar reações alérgicas graves.

Oftalmologistas dizem que os pequenos devem usar somente maquiagens para crianças, hipoalergênicas e aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Não pode usar produto de boneca, não pode usar produto de adulto, não pode compartilhar produto e não pode usar produto vencido”, diz Rosetto.

A médica também alerta para o uso de cada produto na área específica a que é recomendado, além de evitar passar dentro dos olhos. Os pais devem guiar as crianças e orientar os adolescentes sobre o uso correto da maquiagem, sobre a remoção adequada antes de dormir, diz a cartilha.

Exames e acompanhamento oftalmológico

Oftalmologistas dizem que há três exames que devem ser feitos ainda nos primeiros meses de vida:

Teste do Reflexo Vermelho (TRV): Deve ser realizado nas primeiras 72 horas de vida do bebê e repetido pelo pediatra nas consultas de acompanhamento, pelo menos três vezes ao ano, nos primeiros 3 anos de vida.

Avaliação da visão: Durante os primeiros 3 anos de vida, é importante que um profissional de saúde, como o pediatra ou médico de família, faça uma avaliação de como está a visão da criança, de acordo com a idade.

Exame oftalmológico completo: Deve ser realizado, no mínimo, em crianças de 6 a 12 meses e em crianças de 3 a 5 anos (preferencialmente aos 3 anos).

Se a criança precisa de óculos, é importante manter o acompanhamento médico periódico para ajustar o grau necessário.

Além disso, os óculos devem ser escolhidos levando em consideração a idade da criança ou adolescente, além da resistência para evitar que quebrem facilmente.

As lentes de contato podem ser uma opção prática e confortável, mas exigem responsabilidade. É essencial que eles sigam rigorosamente as orientações de higiene e cuidados com as lentes, como higienizá-las corretamente e não as usar por mais tempo do que o recomendado.

Quadros oculares comuns

Terçol (Hordéolo): é uma elevação ou bolinha (inchaço) doloroso quando é tocado que aparece na pálpebra, causado por uma obstrução das glândulas da região.

Celulite periorbital: É uma infecção, geralmente aguda, que atinge as pálpebras e os tecidos ao redor dos olhos. Pode apresentar, como porta de entrada, picada de inseto, sinusite ou hordéolo. Para aliviar a dor e o desconforto, é recomendado aplicar compressas de água morna sobre a área inflamada por alguns minutos, várias vezes ao dia, seguida de massagem na direção dos cílios. Em casos mais graves, é importante procurar um médico para avaliação e tratamento adequado.

Ela se manifesta com inchaço nas pálpebras, sensação de calor local, dor ao toque, vermelhidão, endurecimento da pele, queda da pálpebra e, em alguns casos, secreção nos olhos. A celulite periorbital precisa de atenção médica imediata, pois pode evoluir para complicações mais graves, assim a criança deve ser levada a um serviço de emergência.

Prevenção de acidentes

A cartilha do CBO dá algumas dicas para evitar acidentes:

Uso de objetos com pontas e cortantes: Evite que as crianças manuseiem tesouras, facas e outros objetos cortantes sem supervisão.

Proteja os olhos durante atividades manuais: Ao usar produtos de limpeza, tintas ou ao fazer artesanato, use óculos de proteção para evitar que substâncias ou objetos entrem em contato com os olhos. Cuidado com brinquedos pequenos

Brinquedos: evite que tenham peças pequenas que possam ser levadas à boca ou aos olhos. Verifique se são adequados para a idade da criança.

Produtos químicos: Guarde produtos como detergentes, amônia, sabonetes e outros produtos de limpeza em armários trancados, longe do alcance das crianças.

Proteja os olhos do sol: Em atividades ao ar livre, use óculos de sol com proteção UV para proteger os olhos da exposição excessiva ao sol e evite queimaduras na região ocular.

Ensine sobre os cuidados com os olhos: Ensine as crianças a não coçar e esfregar os olhos e, quando for tocá-los, que esteja com as mão limpas. Mantenha os olhos limpos, lavando pálpebras e cílios.



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