
Renato Farias Santos não teve uma trajetória comum. Nasceu em Itapitanga, a 411 km de Salvador (BA), chegou a São Paulo em pau de arara, fez fortuna e deixou uma empresa de 40 anos para a família.
Foi incomum até na hora da morte. Não queria partir, mas no leito de morte, no Hospital São Rafael, em Salvador, decidiu que queria pedir perdão às três ex-mulheres.
“Ele aceitou uma oração e se converteu a Jesus Cristo, às 4h. Às 10h, ele pediu para chamar as ex-mulheres para pedir perdão. Duas foram e perdoaram. Ele teve uma vida de contenda muito grande com as três ex-mulheres. Então, pediu perdão pelo conjunto da obra. Minha mãe não foi porque mora em outro país”, conta a filha, a advogada Ivy Farias.
Renato era apaixonado por futebol e pelo Santos. Ficou feliz e aceitou a morte ao saber que a filha havia escrito um obituário em formato de crônica esportiva.
“Ele queria morrer lúcido e consciente. Quando deu 18h, eu falei: ‘Pai, vamos começar a fazer a passagem? O senhor está pronto?’. E ele respondeu que sim. Eu falei: ‘Desta vez sem prorrogação’. Ele me respondeu: ‘E dessa vez sem VAR, minha filha’.”
A irmã não aguentou e começou a rir, prossegue Ivy. “Ela falou: ‘Pai, pelo amor de Deus, até na hora da morte você está brincando’. Ele era assim, muito engraçado, piadista.”
Ele agradeceu a generosidade da vida, tudo o que conquistou e, após as filhas cantarem louvores, morreu às 18h15.
Renato tinha sete irmãos e foi carvoeiro na Bahia, antes de ir para São Paulo aos 12 anos. A família estabeleceu-se em Osasco. O pai tinha uma barraca de doces e caldo de cana. A mãe era costureira.
Trabalhou como engraxate e office boy, entre outros. Com muito esforço, conseguiu se formar em direito. Foi trabalhar em Porto Alegre em uma empresa de andaimes. Quando passou a entender do assunto, incentivou o irmão mais velho a abrir uma empresa em São Paulo. Esse irmão ajudou outro a abrir mais uma empresa na mesma área em Campinas.
Depois, esses dois irmãos se juntaram e ajudaram Renato a abrir sua própria empresa, a Mitti Andaimes, em 1986, em Salvador.
Além da empresa, que era sua oitava filha, e do Santos, tinha paixão também pelo abrigo de idosos São Gabriel, que ajudou financeiramente por mais de 15 anos.
Morreu em 16 de maio, em Salvador, após três anos tratando um câncer. Deixa sete filhos e sete netos, além dezenas de amigos e admiradores. Seu livro de crônicas “Nos Trilhos da Memória” foi lançado durante o velório ao som de músicas de Belchior, que tocou em sua festa de 50 anos, e terminou ao som do hino oficial do Santos.