Um pai de Los Angeles, outrora um aspirante a roteirista e agora um cambista profissional, passa suas horas livres calculando até que ponto jovens romancistas brancos, heterossexuais e do sexo masculino foram excluídos do mundo literário. Ele escreve uma diatribe contra editores e críticos que, segundo ele, não valorizam mais a grande literatura, além de criticar um grupo de escritores que já não estão interessados em dizer a verdade sobre a sociedade.

Parece a premissa de um romance literário. Como se o personagem Moses Herzog, do ganhador do Nobel de Literatura Saul Bellow—que escrevia cartas desafiadoras a figuras vivas e mortas— encontrasse o século 21. Dinheiro adiantado, vendas e reconhecimento a caminho.

Ou não. O argumento de um ensaio publicado em março na revista online Compact pelo escritor Jacob Savage —pai, cambista, ex-roteirista— é que, hoje, um romance desses não receberia aclamação proporcional à sua qualidade. Ele sustenta essa tese mostrando a escassez de autores assim nas listas dos principais prêmios literários. Além disso, Savage argumenta que a autocensura desses romancistas —seja por timidez ou interesse próprio racional— faz com que tal romance nem sequer venha a ser escrito.

“Relutantes em se retratar como vítimas (cafona, politicamente errado), ou como agressores (masculinidade tóxica), incapazes de assumir as vozes autênticas de outros (apropriação), os jovens homens brancos já não são mais capazes de descrever o mundo ao seu redor”, escreveu Savage, de 41 anos. O que eles escrevem, acrescentou, evita “lidar diretamente com a natureza complexa de sua própria experiência na América contemporânea”.

O ensaio de Savage gerou tanto escárnio quanto aplausos em jornais e revistas, nas redes sociais e no Substack, em bares e em grupos de conversa.

“Acho que o nervo que toquei é bastante óbvio”, disse Savage em entrevista, acrescentando: “conseguir apresentar números por trás disso foi catártico para algumas pessoas e perturbador para outras”.

Por trás da disputa, ecoa uma questão menos tangível, porém mais significativa: digamos que a perspectiva do homem branco heterossexual esteja sendo atenuada no mundo da ficção literária. Devemos nos importar?

Para alguns observadores, a queixa se traduz aproximadamente como: “Será que alguém pode, por favor, pensar nos homens brancos heterossexuais?” “Se um número muito pequeno de pessoas que não são brancas, homens ou heterossexuais conseguiram (provavelmente de forma temporária) um espaço em uma prática cultural de nicho —que é o que a ficção literária é—, só um sentimento de privilégio extremo, neo-trumpista ou trumpista declarado pode levar alguém a achar que isso constitui uma crise”, disse por e-mail o romancista e roteirista bósnio Aleksandar Hemon.

A romancista e crítica Francine Prose também foi cética: “Vocês comandaram o mundo por milhares de anos, e agora estão se sentindo excluídos?”

Mas para outros, o persistente “sentimento de privilégio” do homem branco heterossexual, por mais destrutivo ou simplesmente irritante que seja, é exatamente o motivo pelo qual essa tendência não pode ser ignorada. Neste momento, os homens brancos heterossexuais e sua interioridade —a grande reserva do romance literário, que por séculos se gabou da capacidade incomparável de explorar as profundezas da motivação humana— parecem mais importantes do que nunca.

Há uma reação às conquistas alcançadas nas últimas décadas por mulheres, minorias raciais e pessoas LGBTQ+ na política e na cultura. O grupo de podcasters e personalidades do YouTube conhecido como a “manosfera” respondeu com seu próprio conjunto grosseiro, muitas vezes de direita e, para muitos, atraente de respostas sobre como os homens brancos heterossexuais deveriam se adaptar aos tempos atuais. O Partido Democrata vestiu seu capacete de explorador e tentou entender os homens jovens.

A sensação de alienação entre aqueles com identidades historicamente privilegiadas parece justamente o tipo de coisa que o romance melhor aborda —aquele gênero que, de Dom Quixote a Anna Kariênina e Herzog, sempre negociou a dolorosa discrepância entre a experiência subjetiva e a realidade objetiva.

“Muita da frustração expressa na ‘machosfera’ é a forma exterior de uma frustração silenciosa que os autores homens não expressaram”, disse o romancista Sam Kahn, editor da Republic of Letters, uma revista literária no Substack.

“A ascensão de Donald Trump ou Andrew Tate não aconteceu porque hordas de romancistas homens não foram publicados”, acrescentou, referindo-se ao influenciador online que, junto com seu irmão Tristan, enfrenta acusações criminais de estupro e tráfico humano no Reino Unido. “Mas as duas coisas não são totalmente desconectadas.”

A dinâmica que Savage e outros delinearam —de que o trabalho de romancistas homens, brancos, heterossexuais e jovens está cada vez menos em evidência no mundo literário— é amplamente aceita, embora não unânime. A disputa está mais na causa: autocensura, desinteresse da indústria, aprovação das elites.

Savage encontrou cada vez menos homens brancos jovens nas listas de ficção notável do fim de ano do New York Times, bem como em equivalentes da Vulture, Vanity Fair, The Atlantic e Esquire. Não há homens brancos entre os 25 indicados mais recentes ao prêmio Young Lions da Biblioteca Pública de Nova York para estreia na ficção, entre os 14 finalistas millennials mais recentes do National Book Award, nem entre os 20 atuais bolsistas de ficção e poesia da prestigiada bolsa Wallace Stegner, da Universidade de Stanford.

Não é exatamente novidade que, como disse o professor de inglês da Stanford Mark McGurl em entrevista, “em termos agregados, homens brancos estão muito menos interessados em ficção literária”. Como criadores e consumidores, muitos homens jovens estão migrando da leitura para a indústria bilionária dos videogames ou para podcasts absurdamente populares.

E não está claro exatamente o que poderia resolver o problema —se é que há um.

Se alguém ler apenas o início do texto de Savage, poderá acreditar que seus principais antagonistas são os guardiões da indústria: agentes, editores, editoras, jurados de prêmios, livreiros. Mas ele reserva a maior parte de sua crítica para os próprios jovens romancistas brancos e heterossexuais.

“Preferências por diversidade podem explicar a ausência deles nas listas de prêmios”, escreveu Savage, “mas não explicam por que eles falharam tão completamente em capturar o zeitgeist.”

Poucos estão dizendo que não deveria haver mais protagonistas homens. O que muitos sugerem é que esses personagens não devem mais apresentar a síndrome do protagonista se quiserem estar em sintonia com as relações de gênero da atualidade.

Durante os tempos imperiais dos “GMNs” (Great Male Novelists, ou Grandes Romancistas Homens), Augie March, de Bellow, podia iniciar o romance que leva seu nome com a declaração: “Sou um americano, nascido em Chicago” —um ato empolgante de “ímpeto assertivo”, nas palavras de um encantado Philip Roth. Os romances contemporâneos, por outro lado, talvez encontrem mais lucidez ao retratar homens brancos heterossexuais como figuras secundárias dentro do panorama cultural mais amplo.

Um exemplo que notei, como homem branco heterossexual que lê romances, é o uso da NBA (a liga de basquete, não o prêmio literário) para explorar de forma engenhosa a masculinidade contemporânea. Quatro livros recentes —nem todos de homens brancos heterossexuais— “Early Work”, de Andrew Martin; “Darryl”, de Jackie Ess; “Great Expectations”, de Vinson Cunningham; e “The Boys”, de Leo Robson— mostram personagens masculinos em contato discursivo com esse universo de ambição masculina (frequentemente negra) sublimada, sugerindo seu papel como espectadores.

Outros dramatizaram o privilégio e seus desconfortos por meio da trama. Escrevendo na revista The Point, o crítico Martin Dolan elogiou o recente romance de Andrew Lipstein, “Something Rotten” —sobre um jovem pai, moderadamente “cancelado”, que decide adotar uma visão mais retrógrada de masculinidade— como um sinal de como “os romances contemporâneos podem pensar sobre a masculinidade: deixando que ela seja feia sem fazer com que essa feiura seja o ponto principal do livro”.

Romances que explorem honestamente os homens brancos heterossexuais jovens, e seus conflitos internos e externos com as ideias contemporâneas de masculinidade, gênero, sexo e poder, vão perdurar.

E quando perdurarem, não será apenas porque oferecem uma alternativa à machosfera. “A ideia é que os romances literários vão salvar os homens brancos dos irmãos Tate?”, disse o romancista Sam Lipsyte por e-mail. “Não sei se vejo isso. Goebbels escreveu um romance, sabia?”



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