Que momento, senhoras e senhores, que momento.

Na noite de 7 de julho de 2025, quando lembrávamos os 35 anos da partida de Cazuza, sua poesia mais viva ecoava na abertura da novela “Vale Tudo”: “Brasil, mostra a tua cara!”.

Era chegada a hora de reviver um dos pontos altos da versão original de Gilberto Braga, de 1988. Milhões de brasileiros acompanhavam suas telas esperando a cena em que Raquel rasgaria o vestido de sua filha, Maria de Fátima.

No domingo anterior, o Fantástico dedicou uma matéria inteira mostrando os bastidores da gravação, a confecção do vestido, o preparo esmerado das atrizes, as instruções do diretor, a reação da equipe.

E o momento veio. Raquel, vivida pela imensa atriz Taís Araujo, libera toda a dor reprimida, todos os males sofridos e o futuro que lhe foi roubado por sua própria filha, Maria de Fátima, interpretada pela jovem Bella Campos.

A mãe, rasgando o vestido de noiva da filha. A mulher digna, trabalhadora, honesta, íntegra que engole a seco e releva todas as injustiças causadas por sua própria herdeira ambiciosa, cruel, sem escrúpulo, finalmente se revolta e se posiciona.

Maria de Fátima mostra sua cara. E nessa cara sem vergonha e sem ética, Raquel desfere um tapa. A cena foi capturada por milhares, talvez milhões de pessoas, direto das telas de TVs e celulares e republicada incontáveis vezes em todas as redes sociais. A terça-feira (8) amanheceu com replays infinitos do famoso tapa na cara da sociedade.

Porque é isso o que vimos ontem. Mais do que Taís Araujo contracenando com Bella Campos, mais do que Raquel mostrando a verdade da vida para Maria de Fátima, ali estava a nossa “pátria mãe gentil” abrindo mão da gentileza e enfiando essa mão na cara da ganância, da desonestidade.

O remake, que foi duramente criticado até aqui, mostrou sua importância nos dias de hoje, quando vivemos sob constante ameaça de golpes de todos os tipos, isolados porque não sabemos mais em quem confiar, assustados porque já não sabemos diferenciar mentira de verdade.

Na cena de ontem, ficou claro que ainda sabemos a diferença entre a dignidade de Raquel e a canalhice de Maria de Fátima. E que podemos escolher o caminho da justiça, que nos permite dormir com a consciência tranquila. O tapa na cara de todos os canalhas do Brasil valeu tudo.

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo



Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *