Que ter filhos muda a vida todos já sabem. Não só porque a prioridade passa a ser o outro, mas também porque começamos a frequentar novos habitats, dominados pelos pequenos que agora regem nossas rotinas: o parquinho, a porta da escola e, claro, as festinhas infantis.

Foi nesse ambiente que voltei a lidar com um detalhe que não era pauta na minha vida desde a década de 1990: as lembrancinhas das festas infantis.

Dos eventos pequenos e artesanais aos colossais, com mágicos e brinquedões, é inevitável que cada pequeno convidado saia com um pacote de brindes.

Alguns anfitriões oferecem brinquedos e kits de artesanato. Outros, não os culpo, desafiam os dentes de leite e os pequenos pâncreas infantis com balas Fini. Quando organizei uma festa pequena para meus filhos, pensei que qualquer opção seria ruim.

As balas, pelos motivos acima. Os brinquedos, por virarem mais uma tranqueira para os pais jogarem fora e mais lixo para o planeta. Decidi dar cubos mágicos que, em minutos, foram desmontados pelas crianças e viraram mais lixo no planeta.

Foi quando me lembrei das festas dos anos 1980 e 1990, quando as lembrancinhas eram animais domésticos. Além de serem inaceitáveis —do ponto de vista da causa animal e o terror dos pais —os bichinhos garantiam um futuro trauma para as crianças. Os peixinhos morriam em poucos dias, quase sempre por overdose da comida dos tutores mirins.

Tive mais sorte com um peixe betta. A “Beta”, como apelidei, sobreviveu uns três meses. Até que, durante o almoço, minha mãe surgiu com o peixe na mão e anunciou: “A Beta morreu!”. Fizemos um funeral no jardim. Doce. E traumático.

Os bichos mais populares eram os pintinhos. Uma colega dormiu abraçada com o dela e acordou com o animal esmagado. Outro viu o seu escapar direto para a boca do pastor alemão da família.

Minha experiência foi menos cruel, mas igualmente traumática. “Pompom”, como batizei, cresceu livre no apartamento. Um dia, minha mãe contou que Pompom foi “ser feliz” no quintal do seu Zé, o porteiro.

Até hoje não tive coragem de perguntar o que realmente aconteceu com Pompom. Mas desconfio que, após algum tempo sendo feliz, ele tenha virado um galeto “orgânico”.

O que, pensando bem, é mais saudável do que uma bala Fini. E mais sustentável do que um brinquedinho de plástico. Voltemos aos pintinhos.


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