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Por professor e jornalista Sadraque Rodrigues – Portal Colombense

Na paisagem ampla e livre dos céus do Paraná, um feito extraordinário rompeu barreiras invisíveis no imaginário coletivo sobre a idade, o tempo e o medo. Aos 75 anos, uma mulher provou que a vida não tem prazo de validade para sonhar alto — literalmente. Com coragem, serenidade e um sorriso que se abriu antes mesmo do paraquedas, ela saltou de uma aeronave e mergulhou em direção a um dos momentos mais libertadores de sua existência. Foi um salto que, mais do que físico, simbolizou a transcendência das limitações que a sociedade insiste em impor àqueles que já viveram mais de sete décadas.

Esta reportagem é um tributo à coragem silenciosa dos que desafiam o relógio biológico, os preconceitos culturais e os próprios medos internos para fazer da vida um recomeço, todos os dias. Porque enquanto houver vontade, há caminho — e, no caso dela, havia céu.

Sonhar não tem idade

Em uma manhã ensolarada de outono, com os ventos soprando em direção à liberdade, a senhora — que prefere manter sua identidade preservada — chegou ao aeroclube localizada no interior do Paraná acompanhada de familiares e amigos. A expectativa era grande. Não era apenas um salto de paraquedas. Era o cumprimento de uma promessa que ela havia feito a si mesma: a de não permitir que o envelhecimento roubasse dela a possibilidade de viver plenamente.

Desde jovem, ela alimentava o desejo de voar. Cresceu vendo filmes de aventura e histórias de pioneiros da aviação. Porém, como acontece com muitas mulheres de sua geração, os sonhos ficaram adormecidos em meio às responsabilidades familiares, à criação dos filhos, à vida dura do campo e à rotina doméstica.

A aposentadoria não a acomodou. Pelo contrário: a tranquilidade do tempo livre reacendeu antigos desejos. E foi então que, aos 75 anos, decidiu realizar um deles: experimentar a sensação de voar como os pássaros.

Preparação para o salto

Mesmo com o apoio da família, havia dúvidas. A idade, a saúde, a força física… Mas nenhum obstáculo foi suficiente para detê-la. A equipe técnica do aeroclube realizou todos os exames e avaliações médicas necessárias. Acompanhada de um instrutor experiente e respeitado, recebeu orientações, equipamentos de segurança e treinou os movimentos básicos do salto duplo.

Nada disso, contudo, pareceu intimidá-la. Durante toda a preparação, mantinha-se tranquila, serena, determinada. Não era um ato impulsivo, mas um desejo amadurecido pelo tempo, pelos silêncios e pelas muitas histórias que só quem já viveu sete décadas pode contar.

O salto que libertou

O avião decolou às 9h47 da manhã. Lá de cima, a vista era espetacular: plantações, rios, morros e a vastidão do céu azul se encontravam no horizonte. A adrenalina misturava-se com a contemplação. E quando a porta se abriu e chegou o momento do salto, ela sorriu, olhou para o horizonte e se lançou no vazio.

Nos segundos seguintes, o mundo pareceu parar. A queda livre, que durou cerca de 40 segundos, foi intensa e libertadora. Depois, o paraquedas se abriu, suavizando o voo e permitindo que a senhora desfrutasse da paisagem com calma. O pouso foi suave, guiado com precisão pelo instrutor.

Ao tocar o solo novamente, ela levantou os braços, riu e declarou: “Eu não senti medo. Senti vida. A gente precisa se permitir.” As lágrimas nos olhos dos filhos, netos e até dos profissionais do aeroclube revelavam o impacto daquele gesto. Ela não havia apenas saltado. Ela havia inspirado.

Uma lição para todas as idades

O ato da idosa repercutiu nas redes sociais e gerou uma série de reações emocionadas. Pessoas de todas as idades comentaram, compartilharam o vídeo e deixaram mensagens de apoio, orgulho e identificação. “Se ela pode, por que eu não posso?”, escreveu uma internauta de 49 anos. Outro, de 60, declarou que a história o fez repensar a decisão de adiar um sonho antigo de viajar para fora do Brasil.

O salto provocou, sem que fosse intencional, uma reflexão coletiva sobre o envelhecer no Brasil. Em um país que ainda luta contra o etarismo — a discriminação baseada na idade —, gestos como esse ajudam a desconstruir narrativas limitantes sobre o que é possível ou não na terceira idade.

Segundo dados do IBGE, o número de idosos no Brasil ultrapassa 30 milhões e tende a dobrar nas próximas décadas. No entanto, a sociedade continua tratando o envelhecimento como um processo de apagamento social. A imagem de uma mulher de cabelos brancos saltando de paraquedas, com brilho nos olhos e riso no rosto, é um poderoso antídoto contra esse imaginário reducionista.

Saúde, autonomia e autoestima

Do ponto de vista médico, a prática de atividades radicais por idosos só é desaconselhada em casos específicos de comorbidades graves. Em situações normais, atividades como o salto de paraquedas, com acompanhamento técnico adequado, são seguras e podem até contribuir positivamente para o bem-estar emocional e psicológico da pessoa idosa.

Segundo a geriatra Dra. Elaine Moura, consultada pela reportagem, “o mais importante é o preparo emocional. Muitos idosos têm boa saúde física, mas são inibidos pelo medo ou pelo julgamento social. Quando superam essas barreiras, os benefícios são incríveis: autoestima elevada, novos estímulos cerebrais e melhora no humor e na socialização”.

Essa mulher de 75 anos representa um novo perfil da terceira idade: ativo, independente, e cada vez mais consciente de seus direitos e possibilidades.

O tempo como aliado

A história dela nos ensina que o tempo, ao contrário do que muitos pensam, não precisa ser um inimigo. Ele pode ser um aliado precioso. A maturidade emocional, a serenidade diante da vida, a sabedoria adquirida em décadas de experiências — tudo isso se transforma em combustível para viver com mais intensidade.

E o mais impressionante não é o salto em si, mas a coragem de olhar para os próprios sonhos e decidir que ainda é tempo. Tempo de recomeçar, de buscar, de ousar. Porque enquanto houver um coração pulsando e uma alma sonhadora, a idade é apenas um número.

Conclusão

No Paraná, uma senhora de 75 anos subiu aos céus e voltou maior do que partiu. Não porque ganhou fama ou porque desafiou a gravidade. Mas porque, naquele salto, ela afirmou a sua humanidade. A sua liberdade. A sua vitalidade.

Ela não saltou para impressionar, mas para se realizar. Não saltou para aparecer, mas para viver. E ao fazer isso, nos lembrou que nunca é tarde para se lançar — no ar, na vida, no sonho.

Que o gesto dela sirva de inspiração para todos nós. Que saibamos, em qualquer idade, encontrar a coragem de abrir as portas do avião e confiar que o céu também é nosso.

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Professor e jornalista Sadraque Rodrigues – Portal Colombense

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