
Senador Fernando Collor (PTB-AL) em pronunciamento na tribuna do plenário do Senado Federal durante sessão extraordinária
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
Na madrugada de 25 de abril de 2025, o Brasil testemunhou um marco histórico: a prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, condenado a oito anos e dez meses de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Este episódio não apenas encerra a trajetória de um dos personagens mais controversos da política nacional, mas também reflete as complexidades e desafios persistentes na luta contra a corrupção no país.
A Ascensão e Queda de um Presidente
Fernando Collor emergiu no cenário político nacional no final da década de 1980, apresentando-se como o “caçador de marajás” e prometendo modernizar o Brasil. Em 1989, tornou-se o primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar. Seu discurso inflamado e postura determinada conquistaram parte significativa da população. Collor prometia cortar os excessos da máquina pública e combater os altos salários e a ineficiência do funcionalismo.
No entanto, seu governo foi marcado por medidas econômicas drásticas, como o confisco da poupança dos brasileiros, o que gerou um clamor nacional. Em paralelo, surgiram os primeiros sinais de um esquema de corrupção envolvendo o então presidente. O escândalo revelado por seu irmão, Pedro Collor, desencadeou uma série de investigações que culminaram no pedido de impeachment. Em 1992, Collor renunciou ao cargo pouco antes de ser afastado oficialmente. Ainda assim, foi julgado pelo Senado e teve seus direitos políticos suspensos por oito anos.
O Retorno à Política e as Novas Acusações
Após um período de reclusão da vida pública, Collor retornou ao cenário político em 2006, quando foi eleito senador por Alagoas. Muitos analistas apontaram essa volta como um sintoma da fragilidade do sistema político brasileiro, em que personagens polêmicos conseguem ressurgir com apoio popular. Durante seu mandato, Collor manteve um perfil discreto, embora continuasse influente nos bastidores.
Em 2015, seu nome voltou ao centro das denúncias de corrupção, dessa vez no âmbito da Operação Lava Jato. O Ministério Público Federal apontou que Collor teria recebido mais de R$ 20 milhões em propinas entre 2010 e 2014, através de contratos fraudados na BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. A acusação detalhou um esquema complexo de lavagem de dinheiro, uso de empresas de fachada e movimentação financeira disfarçada em nome de terceiros.
A Condenação pelo Supremo Tribunal Federal
O processo, que se arrastava há anos, teve seu desfecho em 2023, quando o Supremo Tribunal Federal condenou Collor por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pena foi fixada em oito anos e dez meses de prisão em regime fechado. O relator do caso, ministro Edson Fachin, destacou a gravidade dos crimes e a prova inequívoca da atuação de Collor em favorecimento de interesses privados com recursos públicos. O Supremo também determinou a perda do mandato e a inelegibilidade do ex-senador.
O Simbolismo da Prisão
A decisão de Alexandre de Moraes de decretar a prisão imediata de Collor reverberou em todo o país. Trata-se de um momento histórico, em que um ex-presidente da República é efetivamente encarcerado por crimes cometidos no exercício da vida pública. O simbolismo é profundo: num país onde a impunidade de autoridades sempre foi uma crítica recorrente, ver um ex-chefe de Estado ser levado à prisão pode ser entendido como um marco de avanço institucional.
No entanto, é preciso cautela. A punição de Collor, embora emblemática, não deve ser celebrada com triunfalismo. Antes, deve provocar reflexão. Quantos outros casos semelhantes ainda se escondem sob o manto da burocracia e da lentidão judicial? Quantos outros Collors ainda navegam livremente pelos corredores do poder?
As Lições para o Brasil
O caso Collor é mais que um capítulo político. Ele revela uma engrenagem complexa de poder, interesses, impunidade e sobrevivência política. A capacidade de Collor de retornar à política após o impeachment, se eleger senador e novamente ser envolvido em esquemas, mostra como o sistema é permissivo e cíclico.
A moralidade na política brasileira é frequentemente moldada por conveniências eleitorais, alianças partidárias e acordos de bastidores. A população, muitas vezes enganada por discursos populistas e memórias seletivas, tende a perdoar com facilidade quem deveria ser lembrado como parte de um problema estrutural.
A prisão de Collor, neste contexto, deve ser vista como uma oportunidade. Uma chance de reavaliar nossa relação com a política, com o voto, com a fiscalização dos mandatos. Deve nos levar a exigir mais transparência, mais responsabilidade, mais coerência ética. Que Collor não seja apenas um nome nos noticiários, mas um ponto de inflexão no comportamento do eleitor brasileiro.
Conclusão: Uma Nova Era ou Mais do Mesmo?
A história do Brasil é recheada de altos e baixos, de esperanças e decepções. Collor representa essa dualidade: foi alçado como herói, caiu como vilão, voltou como sobrevivente e agora responde como criminoso condenado. Sua prisão é, sem dúvida, um ato de justiça. Mas a verdadeira justiça só será alcançada quando a política brasileira deixar de produzir novos Collors.
Se o Brasil quiser realmente mudar, precisa aprender com sua história. O caso Collor deve ser analisado, estudado e lembrado. Não para alimentar o sensacionalismo, mas para iluminar o caminho que ainda precisa ser percorrido.
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues