Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
Para o Portal Colombense


O mundo católico amanheceu em silêncio. A Praça de São Pedro, em Roma, que tantas vezes foi cenário de sorrisos, discursos e bênçãos, foi tomada hoje por lágrimas, orações e reflexões. O Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, faleceu nesta madrugada no Vaticano, aos 88 anos. Seu corpo repousa na Basílica de São Pedro, onde fiéis de todas as partes do mundo já se reúnem para prestar as últimas homenagens ao pontífice que revolucionou o catolicismo com simplicidade, empatia e coragem.

Com uma trajetória marcada por enfrentamentos a temas polêmicos, uma linguagem acessível aos povos e uma atuação constante pelos pobres, marginalizados e refugiados, Jorge Mario Bergoglio — nome de batismo do Papa Francisco — entra agora para a história como um dos líderes religiosos mais influentes do século XXI. O argentino que quebrou tradições milenares foi o primeiro papa jesuíta, o primeiro latino-americano e o primeiro a adotar o nome “Francisco”, em homenagem a São Francisco de Assis, o santo da humildade e da paz.


A madrugada silenciosa do Vaticano

A notícia foi confirmada pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, às 5h12 (horário de Roma), em um comunicado breve e comovente:
“Com profunda dor comunicamos que Sua Santidade, o Papa Francisco, retornou à Casa do Pai.”

Francisco vinha enfrentando problemas respiratórios desde o final de 2024, agravados por uma infecção recente que o levou a internações periódicas. Apesar da fragilidade física, o Papa manteve sua agenda pastoral com intensidade, inclusive recebendo líderes mundiais em audiências privadas até dias antes de sua morte.

O corpo será velado durante três dias na Basílica de São Pedro, seguindo o rito papal tradicional, e o funeral ocorrerá em uma cerimônia pública que deve reunir milhões de fiéis e chefes de Estado.


O papa dos gestos simples e dos corações tocados

Desde sua primeira aparição na sacada da Basílica em 13 de março de 2013, após ser eleito sucessor de Bento XVI, Francisco conquistou o mundo com um gesto inédito: antes de abençoar a multidão, ele se curvou e pediu que os fiéis rezassem por ele. Era o começo de um papado diferente.

Recusou luxos, trocou o trono por uma cadeira simples, morou em um quarto comum da Casa Santa Marta, dispensando os aposentos pontifícios. Lavou os pés de imigrantes muçulmanos, almoçou com moradores de rua, condenou o clericalismo, enfrentou escândalos de abusos sexuais no seio da Igreja com firmeza e pediu perdão em nome da instituição.

Defensor da ecologia integral, Francisco publicou a encíclica Laudato Si’, que abordava a crise ambiental como uma questão espiritual e moral, sendo ovacionado por líderes de várias religiões e pela comunidade científica.


Um líder espiritual global

Francisco extrapolou as fronteiras da Igreja Católica. Foi recebido como chefe de Estado e como símbolo espiritual em quase todos os países que visitou. Esteve no Brasil, Cuba, Estados Unidos, Iraque, África Central, Japão e inúmeros outros. Em cada parada, deixou mensagens que não se limitaram à doutrina: falou de paz, direitos humanos, justiça social e diálogo inter-religioso.

Na América Latina, foi um defensor incansável da dignidade dos povos indígenas, da soberania alimentar e da luta contra a desigualdade. No Oriente Médio, buscou reconciliar cristãos, judeus e muçulmanos com gestos diplomáticos. Na Europa, clamou por acolhida aos refugiados e denunciou o fechamento de fronteiras e corações.


Polêmico, mas nunca omisso

Se por um lado foi amado, por outro foi criticado — especialmente por setores mais conservadores da própria Igreja. Ao abrir espaço para discussões sobre a bênção a casais homoafetivos, a revisão do celibato e o papel das mulheres, Francisco causou desconforto entre cardeais e bispos tradicionalistas.

Nunca teve medo de incomodar: afirmou que a Igreja não pode ser “uma alfândega da fé”, que “Deus não rejeita ninguém” e que “o pastor deve ter o cheiro das ovelhas”.

Em uma de suas homilias mais marcantes, declarou:
“Prefiro uma Igreja acidentada por sair às ruas, do que uma Igreja doente por estar fechada em si mesma.”


Um amigo dos pobres e excluídos

A Teologia do Povo, corrente argentina da Teologia da Libertação, influenciou profundamente sua espiritualidade. Francisco não foi um papa ideológico, mas sim profundamente evangélico em sua prática. Falava com frequência do demônio do dinheiro, da idolatria do mercado e das injustiças globais.

Criou o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e apoiou a criação de movimentos de base. Defendeu a economia circular, os direitos dos trabalhadores informais e incentivou jovens a “fazer barulho” por mudanças.


A sucessão no horizonte

Com a morte do Papa, o processo de eleição de um novo pontífice se inicia com o chamado Conclave, formado por cardeais de todo o mundo com menos de 80 anos. O cenário é complexo: herdeiros espirituais de Francisco devem disputar influência com alas mais conservadoras que visam um retorno ao rigor doutrinário.

Francisco deixa uma Igreja mais próxima dos pobres, mais plural, mas também polarizada. Seu sucessor enfrentará o desafio de manter os avanços sociais e dialogar com as diferentes correntes internas.


O luto que une religiões

Líderes mundiais reagiram com pesar. O presidente do Brasil decretou luto oficial de três dias. O Patriarca Ortodoxo Bartolomeu I afirmou que “o mundo perde um homem de fé e pontes”. O Dalai Lama disse que Francisco “foi uma alma luminosa”. O rabino-chefe de Roma afirmou: “Rezávamos juntos pela paz, agora rezamos por ele.”

Não é apenas a Igreja que chora. É a humanidade que se despede de um homem que soube viver o Evangelho com autenticidade.


Um legado eterno

Francisco pode ter deixado a vida terrena, mas seu legado permanecerá como guia para milhões de católicos e não católicos em todo o mundo. O papa que dizia que “a ternura é a linguagem de Deus” nos deixa com a responsabilidade de continuar suas obras com a mesma paixão e coragem.

Nos momentos finais de seu pontificado, repetia sempre:
“Rezem por mim.”

Hoje, o mundo reza por ele. E agradece.

Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues
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