
Economia nacional
Por Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues, para o Portal Colombense
A persistente elevação da taxa básica de juros (Selic) no Brasil tem lançado uma sombra de incerteza sobre diversos setores da economia, com reflexos diretos no bolso do cidadão e nas estratégias de investimento. Para aqueles que acalentam o sonho da casa própria ou a necessidade de um veículo novo, a pergunta que ecoa é cada vez mais premente: em um cenário de juros estratosféricos, ainda vale a pena embarcar em um financiamento? Sob a ótica da direita liberal, que preza pela responsabilidade fiscal, pela previsibilidade econômica e pelo livre mercado como motor de desenvolvimento, a resposta não é simples e exige uma análise aprofundada do contexto macroeconômico nacional e global.
A escalada da Selic, atualmente fixada em patamares historicamente elevados, é uma ferramenta utilizada pelo Banco Central do Brasil para tentar conter a inflação persistente que assola a economia. Em um ambiente de descontrole inflacionário, a alta dos juros teoricamente desestimula o consumo e o crédito, arrefecendo a demanda e, consequentemente, pressionando os preços para baixo. No entanto, essa medida, embora necessária em um primeiro momento para ancorar as expectativas, carrega consigo um ônus significativo: o encarecimento do crédito em todas as suas modalidades, impactando diretamente os financiamentos de veículos e imóveis.
Os dados da economia nacional pintam um quadro complexo. A inflação, embora mostrando sinais de arrefecimento em alguns indicadores, ainda se mantém em níveis preocupantes, corroendo o poder de compra da população e dificultando o planejamento financeiro de famílias e empresas. Os gastos públicos, historicamente elevados e muitas vezes ineficientes, continuam a exercer pressão sobre as contas públicas, alimentando a percepção de risco e contribuindo para a manutenção de juros altos. A tão necessária reforma administrativa, capaz de racionalizar os gastos e aumentar a eficiência do setor público, ainda patina em meio a entraves políticos e corporativistas.
No cenário internacional, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, embora tenha apresentado momentos de trégua, continua a gerar incertezas e volatilidade nos mercados globais. As disrupções nas cadeias de suprimentos, o aumento dos custos de produção e a própria retração do comércio internacional impactam diretamente a economia brasileira, seja através da balança comercial, seja pela influência nas expectativas dos investidores. A política monetária agressiva adotada por bancos centrais de países desenvolvidos, em resposta à inflação global, também contribui para um ambiente de maior aversão ao risco e para a saída de capitais de economias emergentes como o Brasil, pressionando ainda mais a taxa de câmbio e, indiretamente, a inflação doméstica.
Diante desse panorama, a decisão de embarcar em um financiamento de veículo ou imóvel se torna uma equação delicada, com variáveis que exigem cautela e planejamento. Sob uma perspectiva liberal, a intervenção excessiva do Estado na economia, através de subsídios artificiais ou de políticas de crédito direcionado, tende a distorcer o mercado e a gerar ineficiências no longo prazo. Acreditamos que a alocação eficiente de recursos é melhor determinada pelas forças do mercado, com taxas de juros que reflitam o real custo do capital e o nível de risco da economia.
No entanto, a realidade é que a Selic elevada impacta diretamente a acessibilidade ao crédito. As parcelas dos financiamentos de veículos e imóveis disparam, tornando o sonho da aquisição um fardo pesado para muitas famílias. A relação custo-benefício precisa ser cuidadosamente avaliada. Para o financiamento de veículos, a depreciação do bem ao longo do tempo e os custos adicionais (seguro, manutenção, impostos) precisam ser considerados no cálculo final. Em muitos casos, adiar a compra e poupar pode ser uma estratégia mais sensata do ponto de vista financeiro, aguardando um cenário de juros mais favorável ou a possibilidade de uma entrada maior que reduza o montante financiado e, consequentemente, os juros pagos.
No caso dos financiamentos imobiliários, a decisão envolve um horizonte de longo prazo e um montante financeiro significativamente maior. A estabilidade no emprego, a capacidade de arcar com as parcelas ao longo de décadas e a análise das perspectivas de valorização do imóvel são fatores cruciais. Em um ambiente de juros altos, a busca por imóveis com menor valor ou a possibilidade de aumentar o valor da entrada podem mitigar o impacto das taxas elevadas. A portabilidade do crédito imobiliário, embora possa ser uma alternativa em alguns casos, nem sempre se mostra vantajosa diante das condições de mercado.
A visão liberal defende a importância de um mercado de crédito saudável e acessível, mas sem artificialismos que comprometam a sustentabilidade do sistema financeiro. Acreditamos que a solução para a alta dos juros passa por reformas estruturais que promovam a responsabilidade fiscal, a simplificação tributária, a redução da burocracia e a abertura da economia à competição. Um ambiente de negócios mais favorável, com menor intervenção estatal e maior previsibilidade jurídica, tende a atrair investimentos, aumentar a produtividade e, consequentemente, reduzir a pressão inflacionária, permitindo que o Banco Central adote uma política monetária mais flexível.
A influência da guerra tarifária entre EUA e China, embora indireta, não pode ser negligenciada. A incerteza no comércio global pode levar a uma menor demanda por commodities brasileiras, impactando o nosso setor exportador. Além disso, a busca por alternativas de produção e fornecimento por parte de empresas globais pode representar um risco para a nossa indústria, caso não sejamos capazes de oferecer um ambiente competitivo em termos de custos, infraestrutura e segurança jurídica.
Os gastos públicos nacionais continuam sendo um ponto de estrangulamento para a economia. A cultura de gastar além da arrecadação, muitas vezes com projetos de duvidosa prioridade ou com o inchaço da máquina administrativa, gera um ciclo vicioso de endividamento e de necessidade de manter juros elevados para atrair investidores e financiar a dívida pública. A aprovação de um arcabouço fiscal crível e a implementação de medidas concretas para o controle dos gastos são passos urgentes para a estabilização da economia e para a criação de um ambiente propício à queda sustentada das taxas de juros.
Os rumos da economia nacional são incertos, mas a direção que o Brasil precisa tomar, sob uma ótica liberal, é clara: responsabilidade fiscal, reformas estruturais que aumentem a competitividade e a produtividade, e um ambiente de negócios livre e previsível. Somente assim será possível criar as condições para uma queda sustentada das taxas de juros, tornando o crédito mais acessível e permitindo que os brasileiros realizem seus projetos de vida sem serem sufocados por encargos financeiros excessivos.
Em relação à pergunta inicial, se ainda vale a pena financiar veículos e imóveis com a Selic no patamar atual, a resposta é individual e depende da análise cuidadosa da situação financeira de cada um, das perspectivas de renda futura e da urgência da aquisição. Em muitos casos, a prudência e a paciência podem ser as melhores aliadas, aguardando um cenário econômico mais favorável. Para outros, a necessidade imediata pode justificar o endividamento, desde que haja um planejamento financeiro sólido e a consciência dos riscos envolvidos.
O governo, por sua vez, precisa entender que a solução para o problema do crédito caro não passa por intervenções artificiais, mas sim pela criação de um ambiente macroeconômico estável e confiável, que permita ao Banco Central conduzir a política monetária de forma mais eficaz, sem a necessidade de manter juros tão elevados. A liberdade econômica, a responsabilidade fiscal e o respeito aos contratos são os pilares de uma economia próspera e de um mercado de crédito saudável, capaz de atender às necessidades da população sem comprometer o futuro do país.
Professor e Jornalista Sadraque Rodrigues, para o Portal Colombense.